Retrospectiva 2020 (parte 3) -- Anti-ministros

(Lembrete: como discutido início da parte 1, essa postagem se restringe a usar como fonte mídias bolsonaristas)

Quando eu comecei a fazer essa série de postagens, eu tinha como objetivo simplesmente falar um pouco sobre a várzea que foi a política de controle da pandemia ao longo de 2020. Eu não tinha na idéia de que acabaria de tanta coisa que nem tem a ver com a pandemia! Mas sem problema: vou falar aqui um pouco da putaria que é o governo quando a gente olha os “ministros” que o Bolsonaro pôs lá.

Ministério da Segurança Pública

Eu vou começar com algo “leve”: a acusação do Sérgio Moro de que o Bolsonaro estaria tentando interferir na Polícia Federal. O Moro fez muito alarde, saiu atirando, mas no fim das contas a única prova que mostrou foi uma gravação de uma reunião ministerial, que mais serviu pra ajudar o Bolsonaro do que pra atrapalhar. Nela, o Bolsonaro diz que vai interferir sim.. Que já tentou trocar gente da segurança do Rio de Janeiro e não conseguiu. Que “se não puder trocar, troca o chefe dele. [Se] não pode trocar o chefe dele, troca o ministro”. Mas será que isso é prova de que ele fez alguma coisa? Eu não apostaria nisso.

O trabalho do Sérgio Moro foi bom? Bom eu não sei. Eu não vi notícia disso, pra falar a verdade. Eu tenho uma boa imagem do Moro, e acredito que ele tava tentando deixar a PF fazer o seu trabalho direitinho. Mas e depois que ele saiu? Depois que ele saiu, entrou o André Mendonça. Deixa eu mostrar uma coisa que o André Mendonça fez. Em Agosto de 2020 surgiu a informação de que a Seopi (Secretaria de Operações Integradas) estaria elaborando um “dossiê” sobre 579 servidores estaduais e federais que fariam parte de movimentos “antifascistas”. É óbvio que o André Mendonça foi chamado pra dar explicações, e é óbvio que ele disse que não tem nada de errado nisso; mas que é estranho é estranho. (afinal… o que tem de errado em ser “antifascista”? Idealmente todo mundo deveria ser “antifascista”, não?)

Depois disso, em Dezembro, foi a vez do Ministério da Economia, que produziu uma outra lista, de umas 80 pessoas, em que classificava alguns jornalistas como “detratores”.1

O Moro e o André Mendonça pra mim tão numa lista de “personalidades irrelevantes” do governo. Na maior parte do tempo, essa gente não fede nem cheira: tudo fica igual. Por exemplo, em 2019 a Polícia de São Paulo tinha tido o ano mais violento desde 2003. Isso também foi verdade no Rio de Janeiro. O número geral de homícidios (não pegando somente os causados por policiais), por outro lado, tinha caído em 2019; mas voltou a subir: no final de 2020, o número de homicídios em São Paulo tinha crescido 6.1% em relação a 2019. Tudo fica igual, nada melhora, e os ministros dizem que tão “trabalhando”.

Agora esses dias o André Mendonça começou com uma nova loucuragem: processou um advogado por ter falado mal do Bolsonaro2; e também abriu investigação contra dois jornalistas por compararem a saída do Bolsonaro do governo à saída do Getúlio Vargas (que se suicidou pra não sair). Tenho medo de isso ser o começo de um conjunto de perseguições do governo à mídia.

Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

Uma outra ministra que não fede nem cheira é a Damaris Alves. Já em Fevereiro de 2020 ela inventou que seria uma boa idéia promover a abstinência sexual pra prevenir a gravidez precoce. Na época, até o Mandetta disse que não se pode minimizar a discussão dando muita ênfase a essa estratégia.

Aí no vídeo da reunião ministerial do Sérgio Moro, ela levantou a paranóia de que as pessoas tavam contaminando os índios de propósito pra “matar e dizimar” a população indígena e pôr a culpa nas costas do Bolsonaro.3

Finalmente, eu quero mencionar um escândalo um pouco mais grave. Todo mundo se lembra da guria de 10 anos foi estuprada pelo tio e, em agosto, apareceu grávida e teve que fazer um aborto. No Brasil, a lei permite o aborto em três casos:

  1. Em caso de risco à vida da mãe
  2. Em caso de gravidez por estupro
  3. Se o feto for anencéfalo

Infelizmente, não avisaram isso pra um monte de “cristãos” que apareceram na frente do hospital pra impedir o aborto.

Tá, mas o que a Damares tem a ver com isso? Pois é… aparentemente, o Ministério Público entrou com um pedido de apuração pra verificar se ela não teria agido pra impedir o aborto. Eu não consegui achar notícias sobre como anda essa “apuração”.

Secretaria Especial da Cultura

Pode ser difícil de acreditar, mas toda a história a seguir ocorreu em plena pandemia!

Em Janeiro de 2020, o Secretário Especial da Cultura Roberto Alvim fez um pronunciamento na TV com o objetivo de anunciar um prêmio: o Prêmio Nacional das Artes. O problema: ele usou uma estética obviamente (demais!) nazista. O video é esse aqui:

No vídeo, ele cita quase palavra por palavra uma frase do ministro da propaganda alemão, Joseph Göbbels:

A Arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional; será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada.

(a frase original do Goebbels era “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos [potência emocional] e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”)

E a música de fundo ainda é do Richard Wagner (aparentemente, o compositor favorito do Hitler)! O cara ainda teve a cara de pau de dizer que foi só uma coincidência retórica (não fode!).

Depois da polêmica, a Alemanha publicou uma nota contra a loucura, bem como o presidente do Senado Davi Alcolumbre, que é judeu e pediu o afastamento imediato do Roberto Alvim do cargo. O Bolsonaro logo acabou tendo que ceder, e demitir o Alvim.

Daí começou uma nova balbúrdia. Por alguma razão acharam que a Regina Duarte seria a pessoa certa pro cargo e puseram a mulher lá. Como dá pra ver pela data da notícia, ela assumiu lá por 4 de Março de 2020. Só que a Regina Duarte é absolutamente desequilibrada, e durou só uns 2 ou 3 meses no cargo. Dêem uma olhada (não precisa ver inteira) nessa entrevista dela (a última antes de sair), do dia 8 de Maio de 2020, em que ela transforma a entrevista num bate boca aloprado!

(Ironia do destino, em agosto ela caiu na rua e “bateu boca” com o chão, dessa vez perdendo 3 dentes =S)

Duas semanas depois, ela caiu de vez do governo. Só que “caiu pra cima”, porque foi trabalhar na Cinemateca de São Paulo.

Atualmente, a Secretaria Especial da Cultura é comandada por um outro ator: o ator Mario Frias. Felizmente, esse é bem menos barulhento, e se encaixa bem na lista de personalidades que “não fede nem cheira” do governo brasileiro.

Continua na próxima postagem

Eu comecei a fazer uma lista das bobagens que aconteceram ao longo do ano… e tem groselha DEMAIS! Eu vou parar por aqui porque essa postagem já tá mega grande. Semana que vem eu escrevo um pouco mais.

Notas de Rodapé

  1. Eu não achei a lista em sites bolsonaristas. Mas o Uol publicou a lista completa. Clique aqui

  2. Claramente, os veículos de mídia bolsonaristas não estão a fim de noticiar esse causo. Vocês podem ver uma pequena discussão sobre o assunto na entrevista com o Baleia Rossi no Roda Viva – a pergunta sobre o assunto começa aos 30min15. Aparentemente, o André Mendonça teria feito isso com base na “Lei de Segurança Nacional” =O 

  3. mas aí alguém vai dizer que a Damares não mente. Bom… ja pegaram a Damares em vídeo mentindo ter diploma que não tem. Eu não consegui achar isso em site de notícia bolsonarista, mas aqui tem um video em que ela diz ser mestre em educação (o que não é verdade).