18 Nov 2019
Ressalva
Toda a historinha que conto no “contexto” não é a opinião ou palavra de quem
quer que seja: desde que surgiu essa história, escutei altos boatos de toda
sorte de gente sobre todos os tipos de coisas, e o que eu to dizendo é somente
a “minha versão” dessa história que, de verdade, ainda vai dar bastante pano
pra manga.
Contexto
Há algum tempo surgiu um novo alvoroço aqui na Universidade de Kaiserslautern:
a nossa Universidade há de se unir à Universidade de Landau. A minha
orientadora é a decana das Ciências Sociais e faz parte do Senado da
Universidade, e (aparentemente, por isso) acabou tendo muitas reuniões desde
então pra decidir o que isso significaria. A decisão surgiu de um tal
Ministro da Educação (do estado da Renânia-Palatinado) e gerou altos
desconfortos politiqueiros entre Kaiserslautern e Landau.
É que, pra falar a verdade, o que (compreendo que) se queria inicialmente
era fechar a Uni de Landau. O estado da Renânia-Palatinado tem 5 Universidades:
Kaiserslautern, Trier, Mainz, Koblenz e Landau. Pra um estado pequeno como
esse, faz pouco sentido que se gaste tanto dinheiro com 5 Universidades. Mas
quando se falou em fechar a Universidade, dizem que um certo político
relativamente poderoso, originário da cidade, moveu pauzinhos e garantiu que
nada ocorreria. Isso é o que eu escutei, pelo menos.
Na verdade, Landau acabou sendo mergida à Universidade de Koblenz, e desde
há alguns anos a união passou a se
chamar de “Universidade de Koblenz e Landau”. O problema é que Koblenz fica
a 134km de Landau, literalmente no extremo oposto do estado, o que acabou
gerando problemas na administração. Hoje, a administração não fica nem em
Koblenz nem em Landau, mas em Mainz, que é mais ou menos meio caminho
entre as duas cidades.
Como a mescla das duas Universidades foi forçada, dizem (denovo, é o que eu
escuto) que a relação entre os dois “campi” não é boa. Essa seria, daí, a
razão pra “trocar” Koblenz com Kaiserslautern. Kaiserslautern não gosta da
idéia, argumentando que o “nível” de Kaiserslautern é melhor que o de Landau
(Kaiserslautern produz mais pesquisa, tem mais cooperações internacionais,
etc.), e que “abrigar” Landau seria muito gasto. Dentro da Alemanha existe
um certo prestígio em se ter o nome “Technische” na Universidade, e um dos
pontos importantes nessa discussão é justamente “qual o nome que a nova Uni
vai ter”.
Dos números da Renânia Palatinado
Quando surgiu essa história, eu fiquei surpreso de ouvir que a Renânia
Palatinado (esse é o nome do estado onde eu moro. Em alemão é “Rheinland
Pfalz”, mas acho que é notável que eu gosto de traduções) tem “Universidade
demais”. Só cinco? Então resolvi comparar com um outro estado que eu
conheço bem: o Rio Grande do Sul.
A primeira coisa que me passou pela cabeça foi comparar as duas populações,
e ver se o número de Universidades no RS é proporcional. O problema, porém,
foi definir “Universidade”. Por agora, vou me reter às federais: me pareceu
justo contar assim, porque, como eu vou mencionar mais pra baixo, existem
outras instituições de ensino superior por aqui também.
(Ideal seria comparar, nas duas populações, a quantidade de gente no ensino
superior, mas, ainda que tenha encontrado
um site que pareceu promissor,
não consegui encontrar esse número na Renânia Palatinado. No caso do RS,
esse número é difícil de encontrar porque eu teria que decidir “o que
conta como instituição de ensino superior”, já que hoje em dia tem uns
colejões contra os quais eu tenho certa ressalva e preferiria não incluir
na conta. Ainda assim, eu recomendo que se dê uma olhada nas tabelas
aqui.)
|
Renânia Palatinado |
Rio Grande do Sul |
População |
4.05M |
11.33M |
PIB |
€124 Bi |
RS423 Bi |
Universidades |
5 (4?) |
6 |
|
|
Fonte: Wikipedia |
Outra coisa que me pareceu interessante comparar era PIB. É de se esperar
que o estado aqui tenha mais recursos que o RS pra investir em educação
superior. Os números na table mostram que os PIBs são mais ou menos o
mesmo (guardadas as devidas flutuações atuais das moedas), apesar da
população gaúcha ser quase três vezes a da Renânia Palatinado.
Aí eu pensei em verificar o tamanho dessas Universidades. Digo, se as
federais gaúchas são poucas mas absorbem uma quantidade enorme de gente,
então comparar o número de pessoas não faz sentido. Essa foi justamente
a impressão que eu tive:
Universidade |
População |
Universidade de Trier |
13751 |
Universidade de Kaiserslautern |
14869 |
Universidade de Koblenz e Landau |
16479 |
Universidade de Mainz |
32630 |
Total |
77729 |
|
Fonte: Wikipédia |
Universidade |
População |
Universidade Federal de Pelotas |
9679 |
Fundação Universidade Federal do Rio Grande |
12432 |
Universidade Federal do Pampa |
13000 |
Universidade Federal de Santa Maria |
28307 |
Universidade Federal do Rio Grande do Sul |
58001 (2014) |
Universidade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre |
? |
Total |
121419 |
|
Fonte: Wikipédia |
O meu próximo interesse foi no orçamento das Universidades.
Infelizmente, porém, as informações pra esse tipo de coisa são meio
nebulosas. Os dados que eu encontro na Wikipédia das Universidades
brasileiras aparentemente incluem bem mais do que o orçamento anual
(somente pra FURG eu achei essa informação). No caso das
Universidades alemoas, o orçamento inclui dinheiro de projetos
bancados pela iniciativa privada. Ainda assim, pelo menos a
Universidade de Mainz (a maior do estado)
tinha essa informação:
ela recebe €347M do governo em repasses.
Se eu levar em consideração o preço atual do Euro, é interessante
notar que
nem a soma de todas as federais gaúchas chega a esse valor.
Tá, mas, e as outras Universidades?
Quando eu comecei a vasculhar sobre isso, eu só queria saber se é
realmente verdade que a Renânia Palatinado tem só quatro
Universidades. Acontece que não é bem assim. Um mapinha com todas
as Unis do estado está disponível
aqui. Também é
interessante dar uma olhada na
categoria de Universidades na Renânia Palatinado, na Wikipédia.
Eu achei que essa era uma boa forma de comparar o número de
Universidades “de verdade” no RS com as daqui. Quero dizer, a
categoria de Universidades no RS, na Wikipédia
tem 19 instituições. A categoria da Renânia Palatinado tem 17
instituições (ignore-se o “MindGarage”, que é só um laboratório
em Kaiserslautern).
Eu não tenho tempo/saco de olhar as populações denovo, ou tentar
estimar orçamentos de todo mundo; mas eu chutaria que a história
é a mesma: que a população das instituições brasileiras é maior,
simplesmente porque, bem, a gente tem bem mais gente de qualquer
forma. Ainda assim, é importante ressaltar que essa é só mais
uma variável, e vasculhar mais sobre esses números é algo
interessante que certamente valeria a pena.
Conclusão
Tendo dado uma olhada em tudo isso, eu fiquei pensando: báá…
ainda que a gente seja um país “pobre”, eu acho que, pelo menos
em se tratando desses números, a gente não tá tão mal. Estamos
perdendo pra região onde eu tô? Estamos. Mas não acho que é uma
perda muito feia. Isso corrobora com a minha constante impressão
de que o Brasil é beeem melhor do que acredita ser, e que em
grande parte o que a gente precisa mudar é somente a atitude que
a gente tem sobre como as coisas funcionam no país.
É claro que a nossa crise política/financeira, com o dito
“contingenciamento”
das verbas pra educação superior, não ajudou; mas o meu eu
sonhador talvez me faça acreditar que talvez um dia a gente
consiga fazer as coisas melorarem.
17 Nov 2019
(me foi dito que se traduz “eye-tracking” como “rastreamento ocular” em PTBR.
Assim, sigo essa terminologia nessa publicação)
Contexto
Em Agosto eu fui à Conferência Européia do Movimento Ocular (ECEM, na sigla em
inglês), uma conferência bienal que ocorreu em Alicante, na Espanha. Essa
conferência é a maior conferência sobre rastreamento ocular da Europa, e eu fui
lá pra apresentar o resultado de um trabalho de meses tentando analisar os
dados de um experimento que eu rodei, no qual eu usei um rastreador ocular.
(no caso, o poster que apresentei era sobre algoritmos pra tentar corrigir os
dados – se tudo der certo, vai sair um artigo logo sobre isso)
Na conferência, conheci três brasileiros, cujos nomes não lembro, mas com quem
foi legal conversar sobre como é fazer pesquisa no Brasil. O meu objetivo em
especular sobre o assunto era justamente saber como seria a minha vida caso eu
resolvesse voltar ao Brasil após o doutorado. Na discussão, eventualmente
comentei sobre a burocracia para rodar os experimentos no país, e sobre alguns
perrengues em se lidar com o comitê de ética por lá.
Pra quem não sabe, todo experimento psicológico feito com pessoas precisa
passar por um comitê de ética, que decide se os dados a serem coletados e o
procedimento a ser realizado não fere certos padrões de ética. A idéia seria
tentar evitar que, por exemplo, um certo experimento gere algum trauma ou
desconforto: o benefício à humanidade em responder a certas perguntas deve ser
maior do que o custo moral em que a resposta incorre.
Assim, comitês de ética existem no mundo todo, em tudo que é universidade. E,
enquanto todo mundo reclame da sua existência como um entrave à realização de
seu trabalho (porque demora, e é burocrático, e precisa preencher formulários,
e burocracia do diabo), eles são bons. O que é problemático no Brasil não é,
portanto, a sua existência. O que é problemática foi o que eu descobri
depois…
Perfeccionismo à brasileira
Em Setembro do de 2018, um ano antes do ECEM conferência, eu passei dois meses
no Canadá. Meu objetivo por lá era rodar dois experimentos, um dos quais era
justamente o que me levou ao ECEM desse ano. Na época, tive que preencher pela
primeira vez certos formulários que seriam mandados a um comitê de ética. Como
detestasse a burocracia, “reclamei” pra uma amiga, formada em Psicologia,
sobre como era chato lidar com aquilo. A reclamação levou a uma conversa sobre
o tempo entre a concepção de um experimento e a efetiva realização do mesmo, e
sobre como o comitê de ética gerava ainda mais atraso.
É que no meu caso, os experimentos claramente não têm problem algum.
Pessoas adultas sentam-se na frente de um computador, calibram o rastreador
ocular, e lêem frases (ao todo, 72 frases) na tela. Ao fim de cada frase,
elas pressionam a barra
de espaço, e o computador mostra uma perguntinha fácil sobre a frase, junto
com duas alternativas, que elas respondem pressionando ou X ou M no teclado.
As frases não têm conteúdo impróprio (são frases sobre economia/finanças), e
as pessoas têm todo o tempo que precisarem pra responder. Elas podem parar o
experimento quando quiserem, e podem inclusive ir ao banheiro se quiserem.
A conversa com a minha amiga, porém, me levou a descobrir que, enquanto esse
comitê no Canadá era negócio de duas semanas, no Brasil isso é história de
quatro-fodendo-meses! (Na minha Universidade, inclusive, se o experimento tem
certas características – algumas das quais eu indiquei no parágrafo anterior
–, eu nem preciso passar por comitê algum.) Quatro meses!
Mas tá… até então, eu supunha que o problema fosse só a burocracia: no
Brasil, deve ter pouca gente pra muita demanda. É normal esperar que nem tudo
funcione perfeito por lá. Mas daí eu descobri novas coisas com a conversa em
Alicante…
O problema é que os comitês de ética brasileiros (aparentemente) seguem
padrões muitíssimo mais restritos que os de qualquer outro lugar no mundo.
Padrões que honestamente não fazem absolutamente sentido algum, que tornam
o custo de fazer psicolingüística por lá basicamente proibitivos. Deixa eu
dar um exemplo. Em qualquer experimento de psicolingüística de qualquer
periódico conhecido, na hora de descrever os experimentos, é comum encontrar
frases como as seguintes:
Vinte e quatro falantes de espanhol (15 fêmeas) foram pagos para ser
participantes ingênuos (“Twenty-four native speakers of Spanish (15
female) were paid to be naive participants”, Hartsuiker, R. J., Pickering,
M. J., & Veltkamp, E. (2004). Is syntax separate or shared between
languages? Cross-linguistic syntactic priming in Spanish-English
bilinguals. Psychological science, 15(6), 409-414.)
ou
Quarenta e nove estudantes de graduação da Universidade de Illinois
participaram do estudo para [o recebimento de] créditos parciais de
curso.
(“Forty-nine undergraduate students from the University of Illinois
participated in the study for partial course credit”, Gagné, C. L., &
Shoben, E. J. (1997). Influence of thematic relations on the
comprehension of modifier–noun combinations. Journal of experimental
psychology: Learning, memory, and cognition, 23(1), 71.)
O que essas frases indicam é que é totalmente comum que duas coisas
ocorram em experimentos psicolingüísticos: (1) que pesquisadores dêem uma
compensação financeira (i.e., paguem) aos participantes dos estudos; ou
que (2) professores façam com que os alunos de suas disciplinas participem
de experimentos, sob o pretexto (que eu tomo como perfeitamente aceitável)
de que isso lhes ensinará como essas coisas funcionam.
É verdade, é claro, que esse não é o caso sempre. Por exemplo, em muitos
artigos não se diz nada sobre o que os participantes receberam em troca de
sua participação; e em alguns estudos se deixa explícito que eles eram
voluntários. Desse último caso, achei legal exemplificar com um artigo do
professor que me recebeu lá no Canadá:
A participação foi completamente voluntária e nenhum [participante]
recebeu qualquer recompensa em troca de sua participação
(“Participation was fully voluntary and none [of the participants] received
any reward in exchange for their participation”, Arppe, A., & Järvikivi,
J. (2007). Every method counts: Combining corpus-based and experimental
evidence in the study of synonymy. Corpus Linguistics and Linguistic
Theory, 3(2), 131-159.)
Mas o que me tirou os butiás dos bolsos foi escutar que os comitês de
ética no Brasil exigem que a participação seja sempre 100% voluntária,
e nunca associada nem a qualquer recompensa nem a uma tarefa de aula.
A alegação seria (ou pelo menos isso foi o que me foi dito na conferência)
de que isso constituiria “coação” e portanto não seria ético (aos olhos do
comitê). Mas na prática
o que isso significa é que o custo de arranjar participantes
no Brasil é mais alto, e os experimentos demoram mais pra rodar.
Da forma como eu vejo, isso infelizmente só contribui pra uma maior
burocratização e ineficiência da pesquisa brasileira, e reflete um
perfeccionismo que não faz o menor sentido.
Conversando com a minha amiga psicóloga denovo sobre essas coisas, ela me
disse que tem gente no Brasil que defende ferrenhamente essas regras dos
comitês de ética brasileiros. Eu honestamente acredito que uma das duas
seguintes coisas ocorram:
- As pessoas no Brasil acreditam que essas regras são as regras comuns no
mundo todo. Esse é o caso menos pior: é irônico que, num país onde a
gente tem sempre a atitude (incorreta, de fato) de que as coisas nunca
funcionam, a gente esteja sendo
muito mais cuidadoso com a ética nos nossos experimentos do que
basicamente qualquer outro país no mundo. Infelizmente, esse cuidado
excessivo nos leva à irrelevância, com uma produção científica muito
mais restrita do que poderia ser se fosse possível que os professores
levassem a massa gigantesca de estudantes a participar dos estudos
feitos na própria Universidade.
- Ou as pessoas no Brasil são só perfeccionistas mesmo. Esse seria o
caso realmente difícil de resolver. Em que ganham os comitês de ética
brasileiros em ser os mais restritos do mundo?
Conclusão
Essa postagem ficou meio bagunçada, e creio que vai servir como um rant
sobre “porque, ainda que eu queira voltar pro Brasil, normalmente fico
receoso”. Ao escrevê-la, fiquei pensando que é uma pena que eu ainda não
migrei o blog pra outro lugar onde eu possa receber comentários.
Ainda assim, se quem quer que me leia (se é que há quem o faça) quiser
me mandar uma resposta sobre isso, fico feliz em recebê-la em
johncbgamboa@gmail.com .
É claro que, quando eu me refiro a “os comitês de ética”, eu falo de uma
massa disforme que talvez inclusive nem seja tão homogênea quanto eu faço
parecer. Talvez seja inclusive possível que em outras Universidades tudo
seja completamente diferente (as únicas vozes que escutei até agora
vieram de PUCs, e é perfeitamente possível que nos outros lugares os
comitês sejam mais tris).
No mais, pondero esses detalhes ao considerar sobre a minha migração de
volta ao Brasil. Seria maravilhoso se eu pudesse realizar experimentos
sem ter de lidar com bizarrices locais do tipo das que eu mencionei.
Notas de rodapé
03 Nov 2019
Ultimamente, venho interesssado em “saber um pouco mais” sobre o estado atual
da cidade onde cresci. Desde já há algum tempo, quando comparo Kaiserslautern
com Guaíba, tenho a sensação de que não há mesmo lá tanta diferença entre uma
e outra: que a diferença não está na qualidade potencial que pode ser
alcançada pelos seus cidadãos, e sim na menor burocracia, corrupção,
politicagem, …, e na violência, que é obviamente muito menor por aqui.
Uns dias atrás, conversando com uma amiga sobre uma potencial volta ao Brasil, comentei
que um campeão panamericano de canoagem é de um clube Guaibense.
Ela, com sua surpresa, me fez ficar pensando em quantos eventos esportivos
ocorrem todo ano na cidade, e quantos atletas da cidade acabam ficando
conhecidos no país inteiro. Fui dar uma olhada, e encontrei alguns:
Tá, mas, e daí? Eu acho que esses eventos refletem algo importante:
que uma grande parcela da população de Guaíba (ou seja, muitos daqueles
que tem a opção de fazê-lo) acaba saindo da cidade em busca de
“condições melhores” em outros lugares. Assim, muitos conhecidos meus
do tempo de escola hoje vivem em Porto Alegre, ou em São Paulo, ou
Blumenau, ou Curitiba. Gente muito boa, com potencial para contribuir pra
comunidade local, mas que acaba deixando o lugar, numa “fuga de cérebros”
em escala municipal. Um pouco do meu objetivo com essas postagens sobre
a cidade tem sido tentar “compensar” sobre a minha própria fuga, e,
com sorte, ajudar outros a fazê-lo também.
Hoje, por outro lado, existe uma outra razão por que muitas coisas vêm
ocorrendo na cidade: ainda que seja
a 20ª cidade do estado em população
(no link, lá pelo meio, tem uma lista das 20 cidades mais populosas do estado),
o município
é o 12º em arrecadação, parcialmente por conta do
turismo que vem alimentando a cidade há alguns anos.
Me interessa saber mais sobre como esse dinheiro que entra na comunidade
está sendo usado, pensar/discutir sobre como ele poderia ser melhor
usado (para melhorar a situação da cidade), e sobre o que se poderia
fazer para que ele levasse a cidade a uma situação sustentável, onde
o dinheiro cresça, e não se perca.
Em postagens posteriores, talvez eu fale um pouco mais sobre o que penso
sobre essas coisas.
27 Oct 2019
Da mudança de endereço
Esse site está se mudando para um novo endereço.
Eu vinha já há um certo tempo querendo comprar um domínio, e ficava
frustrado porque, apesar do meu nome não ser super comum no Brasil,
os domínios que o referiam já tinham sido pegos.
Esses dias, futucando em nomes de domínios, acabei encontrando um endereço
que me agradou. Comprei o domínio, e agora estou aos poucos aprendendo
(porque nunca o fizera) comofas pra que tudo funcione.
O novo domínio será o seguinte: gamboa.zone
Já dá pra clicar e ver que redireciona pra cá. Por um tempo, provavelmente
vai ficar assim, até eu resolver migrar tudo (aí deve mudar bastante,
porque meu objetivo não é mais usar Jekyll).
Dos objetivos desse blog
Uma das razões pelas quais eu resolvi que queria comprar um domínio foi
a minha frustração com essas páginas estáticas do Github. Elas são muito
boas para eu escrever o que eu penso, mas elas não me permitem receber
comentários. Se eu quero comentários, eu ou preciso incluir um desses
“Disqus” da vida (o que eu me recusaria a fazer, já que
o disqus entrega de bandeja pra Google e Facebook quem quer que entre no site
ou forço as pessoas logarem no Github e
uso um hack pra criar pull requests no meu repositório sempre que alguém comentar
ou uso um tal de StaticmanApp, que não me
agradou tampouco… (apesar de que cogitei a última opção só porque o
criador é um brasileiro)
Ter comentários é interessante porque eu queria começar a escrever mais
nesse blog: um dos outros objetivos da mudança de domínio é a idéia de
começar a expressar mais a minha opinião sobre o que ocorre na cidade
de Guaíba. Guaíba é uma cidade de 100k habitantes, o mesmo tamanho de
Kaiserslautern. A cidade aparentemente vem ganhando um pouco
mais de “proeminência” desde que se tornou turística, com a (há décadas
demandada pela população) barca, que, apesar de cara, traz
pessoas da capital para visitar o lugar, as quais gastam dinheiro na
cidade e movimentam a economia local.
Com o turismo, a cidade agora vem investindo em outras atrações, e na
manutenção da “beleza” da cidade (pelo menos das áreas turísticas), o
que mantém os turistas entretidos gastando.
É claro que essa historinha é “o lado bom” da cidade. Como todo lugar,
a cidade tem seus problemas. Mas, talvez por estar longe, eu acredito
que ela é um bom lugar pra eu dedicar meu tempo livre. Eu acho que
tem muita gente boa (boa no sentido de “boa no que faz”) na cidade,
que acaba saindo de lá pra fazer a vida em outro lugar. Meu objetivo
é meio que simplesmente começar a falar sobre a cidade, e, aí, talvez,
com sorte, algumas dessas pessoas terão um interessante forum onde
discutir sobre os problemas e encontrar algumas soluções. Eu sinto que
é um objetivo meio “sonhador”, mas, bem, vejamos o que ocorre…
Notas de rodapé
21 Jul 2019
Há algum tempo, eu venho propagandeando no meu perfil no Facebook que eu
sairia definitivamente daquela rede social. Desde que criei meu perfil em
2011, a minha relação com aquele ambiente é meio que de amor e ódio: o
detestei quando surgiu, preferindo permanecer no Orkut por tanto tempo quanto
possível (até que não foi mais sustentável – porque todo mundo migrou pro Fb),
me viciei na rede social (a ponto de factualmente não conseguir sair da frente
do computador nem pra comer durante um tempo da minha vida em que eu acredito
ter ficado depresso), me mantive fora de lá por um ano, e, eventualmente tendo
voltado, segui os passos de um bom amigo e deixei de seguir literalmente todos
os meus amigos pra tentar perder menos tempo por lá. Nos últimos tempos, venho
agoniado com a quantidade de “rastros” de informação que eu deixo por todo lado
como usuário de uma centena de serviços eletrônicos e, sendo o Facebook e o
Google os maiores malfeitores, venho tentando tomar medidas na direção de
reduzir a dependência deles (aos poucos, nada muito dramático).
Antes de deletar o Facebook, porém, baixei todas as informações que o Facebook
tinha (ou, pelo menos, dizia ter) sobre mim
(qualquer pessoa pode fazê-lo).
No meio desse monte de dados (foram quase 800Mb), eu achei algumas postagens que
de alguma forma tinham a ver com o Português, que eu ainda assim gostaria de
deixar escritas em algum lugar. Por isso, resolvi escrever essa postagem. Cada
um dos items abaixo é o resultado de alguma postagenzinha que eu tinha
compartilhado que eu achei interessante de alguma forma. Às vezes a postagem era
em inglês, e aí aqui eu deixo uma versão “adaptada” ao Português…
Sobre kibe
(postagem original era em inglês)
Eu quero contar pra vocês sobre uma das minhas palavras preferidas da internet
brasileira.
Depois da imigração Sírio/Libanesa nos anos 1930s, o “quibe” (nós normalmente
escrevemos “kibe”) se tornou um prato comum no Brasil.
https://en.m.wikipedia.org/wiki/Kibbeh
De alguma forma essa palavra adquiriu um significado diferente: o de
“ladroagem intelectual”, i.e., quando alguém reposta algo como se fosse algo
novo criado por ele, clamando (com o objetivo de roubar) pra si o crédito pela
invenção (que na real não é nova). Ambos o ato de roubar e o conteúdo roubado
é geralmente chamado de “kibe”.
Essa palavra é tão comum que deu origem a “kibar” (um verbo) e “kibador”. Tudo
isso é vocabulário normal, super mainstream, ao ponto que o nosso cartunista
mais famoso já foi abertamente criticado pelos seus “kibes”.
Depois da postagem, algumas pessoas responderam sobre a história da palavra.
Alguns sugeriram que a palavra tivesse dado origem ao nome do blog; mas, tendo
consultado a Wikipédia, ela diz que o “Kibe” no nome é em referência à
ascendência Médio-Oriental do criador.
O Wiktionary não tem uma entrada pra palavra kibe. Eu achei que seria legal
registrar que, buscando por sites antigos com o nome da palavra, eu encontrei
o seguinte site:
https://kibandoeandando.blogspot.com/2007/12/antnio-tabet-na-desciclopedia.html?m=1&fbclid=IwAR2kvK68QXWZ8tQkbvczHt_VTXqEvjnMy1N1hPks1BUGutK3rnUaXpoutvc
… que existe desde pelo menos 18 de Dezembro de 2007. Disso fica claro que a
palavra existe há pelo menos uma década, e não parece ter mudado de significado
de lá pra cá.
Sobre mene
Uma das minhas palavras favoritas em inglês ultimamente tem sido “mene”.
“Mene” é uma piada que não é boa o suficiente pra se tornar um “meme”.
Ironicamente, “mene” viralizou e existem até notícias (em Português, é claro)
sobre eles ultimamente…
Denovo, entre os comentários, ficou dito que o site dos menes (uma página
que posta menes) existe desde 2012 (algo que eu acho legal registrar, caso um
dia suma).
De boa na lagoa
Eu fiz uma postagem listando as seguintes expressões:
- De boa na lagoa
- Suave na nave
- Sussa na montanha-russa
Vários outros amigos comentaram exemplos de expressões similares:
(eu reordenei os comentários pra deixar numa ordem que me fizesse sentido)
- Sereno no veneno
- De leve na neve
- Beleza na represa
- De boa na canoa (porque a lagoa tá fria lol)
- Tranqüilo no mamilo
- Susse no musse
- Na manha da aranha
- Tranqüilo como esquilo
- Tranqüilo como um grilo
- Manso como um ganso
Estás fixe ou vais pra Penixe?
Isso na verdade não foi uma postagem minha. Pode ser aberta aqui:
https://www.facebook.com/excelentesmemes/posts/911722429008338
Denovo, eu só quero manter registrado esses joguinhos de palavras. Nesse caso,
esse é bem PTPT lol. Vou escrever aqui os exemplos (esses eu não faço idéia se
alguém de fato usa – eu quero crer que não):
- Estás fixe ou vais pra Penixe?
- (um amigo me marcou dizendo): Tudo certinho, ou vais para o Minho?
- (no que eu respondi, através duma dica dele): Tás de boa ou vais pra Lisboa?
Os comentários por lá são demais:
- Estás com a Larica ou vais para a Caparica?
- Estás bem ou vais para Belém?
- Tás no degredo ou vais para o Moledo?
- Tudo porreiro ou vais para o Barreiro?
- Tudo legal ou vais para o Tramagal?
Lol… eu nem sei se os que eu registrei aqui fazem sequer sentido.
Evolução dos alfabetos
Um amigo uma vez me marcou nesta imagem, que eu acho demais e que eu gostaria
de ter acesso no futuro de uma forma fácil. Assim, deixo um dos links em que
eu a encontrei (com sorte, esse link não vai sumir tão fácil, já que é do 9gag):
https://9gag.com/gag/a1o1yrD
Esse semestre eu dei uma aula sobre Lingüística Computacional, e em uma das
aulas sobre Lingüística de Corpus a gente falou sobre um artigo de uns certos
pesquisadores espanhóis em que eles pediram para que adolescentes com e sem
um certo transtorno social escrevessem um certo texto descrevendo como eles
se sentem em certas situações. Os adolescentes com esse transtorno aí passaram
por um tratamento e foram classificados entre “curados” e “não-curados” (eu to
simplificando um pouco a história) e aí escreveram denovo um texto descrevendo
as mesmas situações.
Os pesquisadores, no artigo, perceberam que os adolescentes curados escreveram
mais parecido com o adolescentes que não tinham o transtorno, e que os
adolescentes que ainda tinham os sintomas usavam certos tipos de palavras de
forma diferente dos que não tinham mais. No artigo, os pesquisadores sugeriam
que essas diferenças poderiam ser usadas como um complemento na hora de
diagnosticar o certo transtorno.
Por que eu to dizendo isso? Porque uma certa outra linha de pesquisa obteve
resultados similares com depressão:
https://theconversation.com/people-with-depression-use-language-differently-heres-how-to-spot-it-90877?fbclid=IwAR0_Me2VcqGHSk2ftHgIVTWVMeSY4HPpVV-zqZV2Hb3n4R1HJx60qqk0azs
Eu postara isso no Facebook um bom tempo atrás, e agora tendo encontrado essa
postagem fiquei pensando que isso certamente deveria aparecer na próxima vez
que eu desse essa aula de Lingüística Computacional (digo, se eu o fizer).
Concluindo
Como o próprio nome dessa postagem diz, essa postagem foi um “backup
lingüístico”. Com ela, eu finalmente posso deletar meu Facebook.
Notas de rodapé