Retrospectiva 2020 (parte 3) -- Anti-ministros

(Lembrete: como discutido início da parte 1, essa postagem se restringe a usar como fonte mídias bolsonaristas)

Quando eu comecei a fazer essa série de postagens, eu tinha como objetivo simplesmente falar um pouco sobre a várzea que foi a política de controle da pandemia ao longo de 2020. Eu não tinha na idéia de que acabaria de tanta coisa que nem tem a ver com a pandemia! Mas sem problema: vou falar aqui um pouco da putaria que é o governo quando a gente olha os “ministros” que o Bolsonaro pôs lá.

Ministério da Segurança Pública

Eu vou começar com algo “leve”: a acusação do Sérgio Moro de que o Bolsonaro estaria tentando interferir na Polícia Federal. O Moro fez muito alarde, saiu atirando, mas no fim das contas a única prova que mostrou foi uma gravação de uma reunião ministerial, que mais serviu pra ajudar o Bolsonaro do que pra atrapalhar. Nela, o Bolsonaro diz que vai interferir sim.. Que já tentou trocar gente da segurança do Rio de Janeiro e não conseguiu. Que “se não puder trocar, troca o chefe dele. [Se] não pode trocar o chefe dele, troca o ministro”. Mas será que isso é prova de que ele fez alguma coisa? Eu não apostaria nisso.

O trabalho do Sérgio Moro foi bom? Bom eu não sei. Eu não vi notícia disso, pra falar a verdade. Eu tenho uma boa imagem do Moro, e acredito que ele tava tentando deixar a PF fazer o seu trabalho direitinho. Mas e depois que ele saiu? Depois que ele saiu, entrou o André Mendonça. Deixa eu mostrar uma coisa que o André Mendonça fez. Em Agosto de 2020 surgiu a informação de que a Seopi (Secretaria de Operações Integradas) estaria elaborando um “dossiê” sobre 579 servidores estaduais e federais que fariam parte de movimentos “antifascistas”. É óbvio que o André Mendonça foi chamado pra dar explicações, e é óbvio que ele disse que não tem nada de errado nisso; mas que é estranho é estranho. (afinal… o que tem de errado em ser “antifascista”? Idealmente todo mundo deveria ser “antifascista”, não?)

Depois disso, em Dezembro, foi a vez do Ministério da Economia, que produziu uma outra lista, de umas 80 pessoas, em que classificava alguns jornalistas como “detratores”.1

O Moro e o André Mendonça pra mim tão numa lista de “personalidades irrelevantes” do governo. Na maior parte do tempo, essa gente não fede nem cheira: tudo fica igual. Por exemplo, em 2019 a Polícia de São Paulo tinha tido o ano mais violento desde 2003. Isso também foi verdade no Rio de Janeiro. O número geral de homícidios (não pegando somente os causados por policiais), por outro lado, tinha caído em 2019; mas voltou a subir: no final de 2020, o número de homicídios em São Paulo tinha crescido 6.1% em relação a 2019. Tudo fica igual, nada melhora, e os ministros dizem que tão “trabalhando”.

Agora esses dias o André Mendonça começou com uma nova loucuragem: processou um advogado por ter falado mal do Bolsonaro2; e também abriu investigação contra dois jornalistas por compararem a saída do Bolsonaro do governo à saída do Getúlio Vargas (que se suicidou pra não sair). Tenho medo de isso ser o começo de um conjunto de perseguições do governo à mídia.

Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

Uma outra ministra que não fede nem cheira é a Damaris Alves. Já em Fevereiro de 2020 ela inventou que seria uma boa idéia promover a abstinência sexual pra prevenir a gravidez precoce. Na época, até o Mandetta disse que não se pode minimizar a discussão dando muita ênfase a essa estratégia.

Aí no vídeo da reunião ministerial do Sérgio Moro, ela levantou a paranóia de que as pessoas tavam contaminando os índios de propósito pra “matar e dizimar” a população indígena e pôr a culpa nas costas do Bolsonaro.3

Finalmente, eu quero mencionar um escândalo um pouco mais grave. Todo mundo se lembra da guria de 10 anos foi estuprada pelo tio e, em agosto, apareceu grávida e teve que fazer um aborto. No Brasil, a lei permite o aborto em três casos:

  1. Em caso de risco à vida da mãe
  2. Em caso de gravidez por estupro
  3. Se o feto for anencéfalo

Infelizmente, não avisaram isso pra um monte de “cristãos” que apareceram na frente do hospital pra impedir o aborto.

Tá, mas o que a Damares tem a ver com isso? Pois é… aparentemente, o Ministério Público entrou com um pedido de apuração pra verificar se ela não teria agido pra impedir o aborto. Eu não consegui achar notícias sobre como anda essa “apuração”.

Secretaria Especial da Cultura

Pode ser difícil de acreditar, mas toda a história a seguir ocorreu em plena pandemia!

Em Janeiro de 2020, o Secretário Especial da Cultura Roberto Alvim fez um pronunciamento na TV com o objetivo de anunciar um prêmio: o Prêmio Nacional das Artes. O problema: ele usou uma estética obviamente (demais!) nazista. O video é esse aqui:

No vídeo, ele cita quase palavra por palavra uma frase do ministro da propaganda alemão, Joseph Göbbels:

A Arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional; será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada.

(a frase original do Goebbels era “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos [potência emocional] e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”)

E a música de fundo ainda é do Richard Wagner (aparentemente, o compositor favorito do Hitler)! O cara ainda teve a cara de pau de dizer que foi só uma coincidência retórica (não fode!).

Depois da polêmica, a Alemanha publicou uma nota contra a loucura, bem como o presidente do Senado Davi Alcolumbre, que é judeu e pediu o afastamento imediato do Roberto Alvim do cargo. O Bolsonaro logo acabou tendo que ceder, e demitir o Alvim.

Daí começou uma nova balbúrdia. Por alguma razão acharam que a Regina Duarte seria a pessoa certa pro cargo e puseram a mulher lá. Como dá pra ver pela data da notícia, ela assumiu lá por 4 de Março de 2020. Só que a Regina Duarte é absolutamente desequilibrada, e durou só uns 2 ou 3 meses no cargo. Dêem uma olhada (não precisa ver inteira) nessa entrevista dela (a última antes de sair), do dia 8 de Maio de 2020, em que ela transforma a entrevista num bate boca aloprado!

(Ironia do destino, em agosto ela caiu na rua e “bateu boca” com o chão, dessa vez perdendo 3 dentes =S)

Duas semanas depois, ela caiu de vez do governo. Só que “caiu pra cima”, porque foi trabalhar na Cinemateca de São Paulo.

Atualmente, a Secretaria Especial da Cultura é comandada por um outro ator: o ator Mario Frias. Felizmente, esse é bem menos barulhento, e se encaixa bem na lista de personalidades que “não fede nem cheira” do governo brasileiro.

Continua na próxima postagem

Eu comecei a fazer uma lista das bobagens que aconteceram ao longo do ano… e tem groselha DEMAIS! Eu vou parar por aqui porque essa postagem já tá mega grande. Semana que vem eu escrevo um pouco mais.

Notas de Rodapé

  1. Eu não achei a lista em sites bolsonaristas. Mas o Uol publicou a lista completa. Clique aqui

  2. Claramente, os veículos de mídia bolsonaristas não estão a fim de noticiar esse causo. Vocês podem ver uma pequena discussão sobre o assunto na entrevista com o Baleia Rossi no Roda Viva – a pergunta sobre o assunto começa aos 30min15. Aparentemente, o André Mendonça teria feito isso com base na “Lei de Segurança Nacional” =O 

  3. mas aí alguém vai dizer que a Damares não mente. Bom… ja pegaram a Damares em vídeo mentindo ter diploma que não tem. Eu não consegui achar isso em site de notícia bolsonarista, mas aqui tem um video em que ela diz ser mestre em educação (o que não é verdade). 

Retrospectiva 2020 (parte 2) -- Alinhamento automático aos EUA

(Lembrete: como discutido início da parte 1, essa postagem se restringe a usar como fonte mídias bolsonaristas)

Quando o ano de 2020 começou, o Brasil já não vinha com uma ótima imagem internacional. No ano de 2019, algumas cagadas já vinham deteriorando a imagem brasileira perante o mundo. Algumas delas tinham sido:

  1. O Brasil se comprometeu em mudar a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém. Em Janeiro de 2020, o Bolsonaro inclusive confirmou o compromisso em uma viagem à Índia. É claro, isso enfureceu os países árabes, que compram a nossa carne, mas não são muito claras pra mim quais as conseqüências que isso pode ter no longo prazo.
  2. O Brasil teve um aumento de 45% nas queimadas da Amazônia, e em 2020 isso se converteu nas piores queimadas na Amazônia desde 2010. O Bolsonaro, na época, acusou ONGs de serem as causadoras do incêndio, e de serem financiadas pelo Leonardo Dicaprio!. Quando o G7 (um grupo de sete países “ricos”) ofereceu dinheiro para ajudar contra o fogo, o Bolsonaro tretou com o Macron. Isso tudo (e um conjunto de coisas sobre que eu vou falar na próxima postagem) levou o parlamento europeu em 2020 a concluir que o Brasil vai contra o Acordo de Paris. Eventualmente, o parlamento europeu reprovou o acordo entre a União Européia e o Mercosul, que tinha tudo pra trazer um monte de investimento extrangeiro pro Brasil.
    • Eu tenho que fazer umas ressalvas aqui. É verdade que o Macron tinha/tem interesse político em criar uma imagem ruim do Brasil (que compete na produção agrícola com o Brasil); é verdade que as queimadas no Brasil são em parte um fenômeno natural (o que não explica porém por que elas aumentaram MUITO desde o início do governo Bolsonaro); e é verdade que o Brasil tem muito mais área preservada que a França (ou a Europa como um todo). Nada disso muda o fato de que o governo lidou MUITO MAL com as críticas.
  3. O Brasil apoiou um golpe na Bolívia em novembro de 2019. O Evo Morales tinha um mandato que deveria ser cumprido até Janeiro; mas acabou sendo deposto e substituído pela presidente interina Jeanine Añez. Em 2020 houve eleições denovo e (vejam só) ganhou o Luis Arce, do partido do Evo ganhou!1
  4. O Bolsonaro disse que a Argentina “votou mal” e criou um climão com os hermanos depois que o Alberto Fernández da Argentina foi eleito. O Bolsonaro nem foi à posse do presidente do nosso maior aliado regional, e o Fernández não foi a um encontro do Mercosul no fim de 2019 por não ter “clima”.
  5. Pra mostrar o alinhamento automático do Brasil aos EUA, o Brasil votou a favor do embargo contra Cuba, numa votação em que 187 dos 193 países da ONU votaram contra (somente Brasil, Israel e EUA votaram a favor, e outros 3 países não votaram).

Como dá pra ver nos pontos acima, a imagem que o Brasil tem no cenário internacional pode ter reflexos econômicos: as queimadas fizeram com que a Europa não quisesse saber do Mercosul; a mudança da embaixada em Israel poderia fazer com que os árabes não mais quisessem tanto comércio com o Brasil, e até mesmo os nossos vizinhos poderiam, por exemplo, fechar as fronteiras e implementar medidas mais protecionistas se o Brasil começasse a apoiar golpes de Estado como o da Bolívia ou interferir na política Argentina. De fato, o próprio governo Bolsonaro já fantasiou por vezes deixar o Mercosul, o que seria um desastre sem tamanho.

Esse desastre pode não ter acontecido; mas um conjunto de desastres vêm acontecendo desde 2019. O Brasil perdeu o lugar que tinha no “cenário mundial”. Se antes todo mundo pensava no Brasil como um país “bom”, essa impressão não é mais verdade com o governo Bolsonaro. Antes as nossas políticas externas faziam pelo menos algum sentido. Por exemplo, importar médicos de Cuba pelo menos era barato, e colocava médico nas grotas, onde ninguém quer morar, ainda que contribua com um regime bosta (o Cubano). No pior caso, se Cuba fizesse alguma merda, a gente podia pelo menos dar nacionalidade brasileira pro médico cubano e deixá-lo ficar, já que é mão de obra boa e necessária 2. Mas agora, no governo Bolsonaro, parece que a ideologia é outra. A ideologia é “ser amiguinho” (ou, pior, ser capacho) de Estados Unidos. Nos parágrafos a seguir, eu vou dar uma passada em algumas das tolices que o Brasil fez esse ano. Note-se que a maior parte do que eu descrevi nos parágrafos acima também é fruto desse “alinhamento automático” (como alguns canais de notícia gostam de dizer) aos Estados Unidos. Pelos EUA, a gente comprou briga com a União Européia, com a China, com os árabes, e até com os nossos vizinhos. É uma ideologia muito estranha. Eu não me surpreenderia se em anos vindouros descobrissem que o Bolsonaro, sei lá, é na verdade um agente duplo da CIA ou coisa parecida.

Eu começo com algo de que se falou pouco, mas que eu acho interessante. (Mas tenho que dizer que eu não entendo bem as conseqüencias disso.) Ocorreu já no início do ano de 2020, em janeiro: o Brasil deixou a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), um organismo internacional do qual participam hoje 32 países. Uma das “idéias” da CELAC é juntar os países latinos contra o imperialismo externo (leia-se, estadunidense). Assim, deixar a CELAC me parece similar à decisão brasileira (em 2019) de deixar o seu status de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio: i.e., uma decisão “em prol dos EUA”, com a expectativa de que os EUA (ou, na real, o Trump – que o Bolsonaro insiste em acreditar que é seu amigo) nos dêem alguma coisa em troca, num futuro distante, sem muito compromisso.3

Quando a COVID começou, o governo brasileiro resolveu fechar as fronteiras com um monte de países onde o vírus tava rolando solto. Ainda assim, porque o Bolsonaro gosta de ser capacho do Trump, a gente não fechou as fronteiras com os EUA! Na época, os EUA já eram o quinto país com o maior número de casos!.

(Na internet eu achei a visualização abaixo do número de casos de COVID por dia. Eu tentei dar uma comparada dos nnúmeros dela com os números do Worldometer, que é onde eu normalmente acompanho os casos, e ela pareceu certa, mas eu não consigo garantir muitos detalhes. De qualquer forma, dá pra ver ali como no dia 20/03 os EUA tinham já ~21mil casos, e uma semana depois, no dia 27/03, esse número já tinha subido pra ~110mil casos!)

Não sei se dá pra lembrar, mas, naquele tempo, tudo acontecia muito rápido: em questão de duas semanas, países que tinham pouquíssimos casos subiam às primeiras posições nos rankings. O Brasil deixou as fronteiras abertas com os EUA até o dia 27/03, quando os EUA cruzaram os 100mil casos! Naquela hora já era tarde: se o objetivo de fechar fronteira era impedir gente infectada de entrar, agora já não dava mais.

É legal notar como os sacrifícios brasileiros em prol dos EUA não trouxeram nada de bom pro Brasil4. Quando o Brasil virou um dos epicentros da pandemia, em Maio, os EUA simplesmente anunciaram que não queria brasileiro nenhum entrando no país. Note-se: eles não fecharam as fronteiras com TODOS os países, como a gente tinha feito antes. Ele fecharam as fronteiras especificamente com o Brasil. Eles não queriam brasileiro entrando no país ¬¬

Mas o alinhamento automático do Brasil com os EUA não foi desgastado por esse tipo de coisa. No mês seguinte, o Bolsonaro anunciou, quase como um fantoche, que seguiria o Trump e deixaria a OMS logo. Até agora, o Bolsonaro não cumpriu essa promessa. Com o Trump fora do jogo, a minha torcida é que ele não a cumpra: deixar a OMS seria um puta tiro no pé =/

No final de 2019 o Trump tinha aumentado impostos sobre o aço brasileiro e argentino, com o argumento de que a gente tava “desvalorizando artificialmente” a nossa moeda (sério?). Isso já era uma puta facada no Brasil; mas daí em Outubro de 2020, quando o Brasil tava na merda e o dólar tinha subido pra mais de cinco reais, o Trump denovo impôs novas restrições sobre o nosso aço. O governo brasileiro, em vez de tentar impedir, ou retaliar, ou fazer qualquer coisa com um mínimo de dignidade, respondeu com a seguinte declaração, que deixa bem claro qual é o compromisso do governo brasileiro atual:

“O governo brasileiro mantém a firme expectativa de que a recuperação do setor siderúrgico dos EUA, o diálogo franco e construtivo na matéria, a ser retomado em dezembro próximo, e a excepcional qualidade das relações bilaterais permitirão o pleno restabelecimento e mesmo a elevação dos níveis de comércio de aço semiacabado. Essa perspectiva coaduna-se com os atuais esforços conjuntos de integração ainda maior das economias dos dois países”

Deu pra sentir o papel de capacho que a gente tá fazendo? O vídeo abaixo mostra como os Estados Unidos (a Saori Kido) tão tratando o Brasil (o Jabu de Unicórnio), e como o Brasil compra briga com quem quer se atreva a se defender (o Seiya de Pégaso):

Enfim… o fim do ano foi marcado pela demora do Bolsonaro em dar parabéns ao Joe Biden pela sua eleição. É claro, isso ocorreu porque o Bolsonaro insistiu em se intrometer na política interna dos EUA e acreditar (e falar abertamente) que as eleições estadunidenses foram fraudadas. E ainda ameaçou o governo Biden com a frase mais lamentável do mandato: “Depois que acabar a saliva, tem que ter pólvora”.

Haja incompetência!

Notas de rodapé

  1. O que eu queria ressaltar é que o Bolsonaro não foi na posse; mas não consegui achar essa informação nas mídias bolsonarista (a que eu to me restringindo aqui nessa postagem). 

  2. Por outro lado, o PT levou o Brasil a tomar um calote fenomenal da Venezuela sem explicação nenhuma. Ou seja, algumas coisas são sim difíceis de entender. 

  3. O objetivo era que o Trump endossasse a entrada do Brasil na OCDE. Ele demorou, e todo mundo já tava desacreditado de que isso ocorreria; mas em Janeiro de 2020 ele finalmente o fez. Isso significa que o Brasil tá na OCDE? Não. E com o Trump fora do cargo, esse “endosso” vai embora com ele. (mas isso tudo é complicado: pra que serve “estar na OCDE” afinal?) 

  4. Eu vou deixar esse link de 2019 do próprio R7 (um canal pró-Bolsonaro) sobre o quão bizarras essas concessões aos EUA são. 

Retrospectiva 2020 (parte 1)

Esses dias eu vi o seguinte vídeo:

Quando eu o vi, eu concluí que a pessoa que o postou tinha perdido completamente o contato com a realidade. O problema é que explicar o porquê disso é difícil: as coisas que ele diz tem seu fundo de verdade, mas normalmente “não são bem assim”. Quando eu disse à pessoa que esse vídeo é um absurdo, a pessoa disse que não discutiria comigo sobre Bolsonaro, porque sabe que “eu sou contra”. Bom… eu até que poderia não ser: no tempo da eleição, o voto era uma escolha difícil entre duas opções extremamente ruins, e o Brasil acabou escolhendo a direita. Na época, eu não esperava um governo bom, mas tinha a expectativa de pelo menos alguma “estabilidade”: o país tinha passado por muita loucuragem nos últimos anos.1 Mas eu sou contra incompetência, e esse governo mostrou que tem incompetência de sobra.

O objetivo dessa nova série de postagens é explicar por que eu acho o governo incompetente. Eu também quero mostrar um negócio muito louco que ocorre entre eleitores bolsonaristas: um esquecimento incrível daquilo que acabou de acontecer. Esse esquecimento, eu creio, é movido por duas coisas:

  • As mídias pró-bolsonaro, que promovem uma narrativa que parece coerente se a pessoa não se lembra dos detalhes
  • O monopólio da verdade que elas detêm. Ou seja, eleitores pró-bolsonaro só acreditam no que dizem as mídias bolsonaristas.

A pessoa que postou o vídeo inclusive me disse que não assiste à Globo ou à Band há dois anos. “Não acho notícia confiável”. Por isso, eu resolvi que nessas postagens só vou usar mídias pró-bolsonaro, e algumas entrevistas diretamente com a pessoa (em que é óbvio que não tem como tirar de contexto o que ele disse). Por exemplo, eu pretendo usar a Jovem Pan (a que eu assisto toda semana pra me manter informado sobre o que pensa a direita – eles eram menos absurdos, mas vieram gradativamente migrando pra direita desde ao longo do ano passado), ou o Record News. (fico feliz em receber opiniões de outras mídias obviamente pró-bolsonaro.)

Porém, nessa primeira postagem, eu quero rebobinar ainda mais e criticar um ex-ministro do governo que em 14/02/2020 deixou o executivo (o governo) e voltou pra câmara, onde (até onde eu sei) foi atuar por lá como aliado do governo: o deputado Osmar Terra (MDB-RS). Ele é médico, foi parte do Partido Comunista do Brasil, só pra eventualmente “se arrepender” e virar Ministro da Cidadania no governo Bolsonaro. Ele também foi Secretário da Saúde no RS durante a pandemia de H1N1 uns 10 anos atrás.

Vejamos o que ele disse à TV Câmara no dia 18 de Março de 2020, quando o Brasil tinha só uns 200 casos:

Algumas coisas que ele disse aí:

  • (1min45) A pandemia iria durar poucas semanas
  • (2min43) “Esta epidemia, na minha opinião, vai ser menor e [vai causar] muito menos dano pra população do que a epidemia do H1N1”
  • (4min07) “Todas as epidemias virais seguem mais ou menos o mesmo curso.”:
    • (4min11) Demora 4~5 semanas até atingirem o ápice;
    • (4min38) Depois, em mais umas 4~5 semanas, tendem a desaparecer. “Já tá desaparecendo inclusive nos lugares onde ela começou”
  • (5min19) “Os trabalhos todos publicados sobre pandemia mostram que suspender aula não adianta nada. Não tem impacto no ritmo de contágio”

Eu acho que eu não preciso explicar agora que tá tudo errado aqui. Sobre esse último ponto, o meu entendimento é que os trabalhos dizem justamente o contrário; mas eu acho que esse assunto merece uma postagem própria sobre o assunto.

O Osmar Terra foi um dos caras que mais espalhou desinformação no início da pandemia. Aparecia em tudo que é lugar. A entrevista a seguir ele deu uma semana depois, no dia 26 de Março de 2020. Aqui ele fez outras previsões ridículas:

  • (1min21) “Quando surgem os primeiros casos detectados o vírus já tá espalhado […] em milhares de pessoas que não vão ter nenhum sintoma”
  • (3min32) “Isso é uma curva de 12 semanas” (mesma ladainha de antes)
    • (4min07) “na sexta semana tá no auge”
    • (5min18) “é raríssimo um adulto abaixo dos 50 anos, sadio, que não tem outra doença, adoecer”
  • (7min50) “Nós devemos chegar no pico da epidemia na terceira semana de Abril”
  • (9min08) “Termina no final de Maio, início de Junho”
  • (12min01) “99.6% das pessoas que forem infectadas pelo vírus … não vão sentir nada”
  • (16min12) “[H1N1] matou muito mais gente do que o Coronavirus vai matar”

Ele próprio depois diz quanta gente morreu no surto de H1N1 no Brasil em 2009: foram 58mil casos e 2100 mortes (16min17). Ele também diz que (16min43) a gripe sazonal no Rio Grande do Sul mata 1000~1200 pessoas por ano. Aos 16min57 ele sugere que no Brasil “é provável” que, com todos os casos, acabem matando mais ou menos por aí.

É óbvio que eu não preciso explicar que todas essas previsões se mostraram erradas. Tanto que o artigo da Wikipedia sobre ele diz que entre algumas pessoas na internet ele passou a ser chamado por nomes como “Osmar Erra” ou “Osmar Terra Plana”. Mas ainda assim, é interessante ver como ele ainda hoje é convidado pra falar na TV. A entrevista a seguir é de 9 de Dezembro de 2020, logo após ele ter se recuperado de uma infecção de COVID e ter sido internado num hospital em Porto Alegre:

Denovo, ele fala groselha:

  • (2min17) “A Suécia ficou lá aberta todos esses meses … e não morreu uma criança de COVID”
    • Minha resposta: Eu procurei os dados sobre isso e não consegui encontrar. É sabido que morrem poucas crianças, mas não é pra isso que serve o lockdown: o lockdown é pra proteger os professores e os pais dessas crianças. De qualquer forma, vou falar sobre isso em outra postagem
  • (3min21) O Fiuza diz que “hoje já temos levantamentos confirmando … que essas áreas mais trancadas não tiveram menos óbitos”. Denovo… daqui pra frente vou ignorar coisas relacionadas a lockdown. É algo que merece uma postagem própria.
  • (4min48) “Em geral, abaixo dos 70 anos [a resposta inflamatória causada pelo vírus] é muito leve”
  • (8min11) “O que aconteceu de diferente foi que esse vírus demora mais pra chegar à imunidade de rebanho. O segredo de terminar qualquer epidemia é a imunidade de rebanho.”
    • Minha resposta: e a vacina?
  • (8min42) Ele responde: “Nunca uma vacina terminou uma epidemia”
    • Minha resposta: e a gotinha contra paralisia infantil? E o sarampo? Não tinham sido eliminados por vacina? (ele pode argumentar que não eram uma epidemia. Mas convenhamos… não é esse o ponto: a paralisia infantil foi completamente eliminada do Brasil por uma gotinha!)
  • (9min23) A partir daqui ele começa a sugerir que mais da metade da população teria uma “imunidade natural” contra o virus. Ele cita pesquisadores aleatórios. Eu não achei notícia alguma nem estudo algum cujos autores são esses dois (Karl Friston e Michael Levitt).
  • (11min15) “O pico tá na 19a semana epidemiológica.”
    • Minha resposta: groselha.
  • (11min25) “Não houve um novo surto … que piorou as internações hospitalares”
  • Ele segue falando que tem que testar a vacina, ignorando que o teste da vacina é justamente o seu uso. A vacina permanece sendo “testada” quando aplicada, justamente porque não é possível fazer diferente. Na minha opinião, isso só espalha desconfiança sobre a vacina, e ignora que os testes que a gente já têm mostram que a mortalidade da vacina é no mínimo menor que a do vírus.
  • (24min46) Depois de ter falado e falado de imunidade de rebanho na primeira metade da entrevista, ele fala que é um problema que a vacina de Oxford tenha ~70% de eficácia, porque “30% das pessoas vão tomar achando que vão estar protegidas e não vão estar protegidas”. É justamente pra isso que servem os outros 70%: o objetivo da vacina é chegar à imunidade de rebanho!
  • (26min39) “São 6 milhões mas na verdade são 60 milhões que já foram infectados, porque esse virus, pela letalidade dele, que é 0.27%, ele contamina muito mais do que aparece”

(Eu vou me focar na cloroquina também em outra postagem, então não vou comentar aqui)

Note-se que o número de internações do Coronavirus é enorme! No começo da pandemia, ouvi dizer que era de 19%. Não achei o dado, mas num estudo da USP essa taxa ficou na faixa dos 10%.

O Osmar Terra parece ter entendido que as pessoas acreditam mais se ele citar nomes de pesquisadores. A essa altura, porém, ninguém mais deveria estar dando ouvidos a um cara que falou tanta bobagem no início da epidemia. É impressionante que alguém dê. Pra mim o problema é: a Jovem Pan nunca “admitiu” que ele tava errado. E o bolsonarista que recebeu video dele no início do ano nem lembra mais. A narrativa dessa direita nunca ressucita os erros dele, e ignora quanta gente morreu por causa desses erros.

O problema de combater esse tipo de desinformação é que dá muito trabalho. As pessoas recebem vídeos com ele dizendo isso no WhatsApp e não têm discernimento o suficiente pra saber. Como o Osmar Terra é supostamente alguém “estudado”, as pessoas acabam acreditando. Quem realmente sabe das coisas acaba recebendo pouca atenção (porque não aparentemente tem interesse político nisso).

Alguém que claramente sabe das coisas, e tava muito esperto pra tudo o que tava rolando é o Átila Iamarino, que a Jovem Pan gosta de chamar de Youtuber (porque ele é a pessoa por trás do canal Nerdologia), mas que por acaso também é biólogo, e que foi pós-doutorando (ou seja, pesquisador2) na Universidade de Yale (aqui tem link pra um artigo dele em que ele trabalhou com o vírus Ebola, justamente durante o surto que teve na África em 2014). Importantemente, ele não é político, e o trabalho dele no Youtube é o de divulgar a ciência de uma forma fácil de compreender. É óbvio que alguém que trabalhou com pesquisa num surto de uma doença infecciosa poucos anos atrás deve saber bem do que tá falando. O “alarmista” Átila Iamarino tava dizendo justamente o contrário de tudo o que o Osmar Terra dizia já lá em Março. Em fevereiro ele já dizia que a gente talvez precise tentar “achatar a curva” (ou seja, evitando contato e ficando em casa) se começar a ter transmissão comunitária. Também disse que (~50min) o Brasil tava muito bem preparado pra combater o virus, por conta do SUS (que tem uma capilaridade grande, estando presente em tudo que é lugar do país).3 Nessa live ele também já disse (~51min) que provavelmente só íamos ter vacina em 2021, e que (~56min) a economia ía tomar no cu esse ano.

No dia 18 de Março, o mesmo dia da primeira entrevista com o Osmar Terra, o Átila já dizia que:

  • (35min47) Se a gente fechasse _naquele exato momento_ as cidades onde tinha surto, a gente teria pelo menos 3 meses de pandemia ainda (extrapolando pelos dados da China). Ou seja, se agíssemos naquele momento, a pandemia duraria mais do que “fim de Maio / início de Junho”, como disse o Osmar Terra. Se a gente não agisse naquele momento, o cenário poderia ser muito pior.
  • (38min41) Mesmo depois que tivermos vacina, elas vão demorar meses pra serem produzidas.

Dois dias depois, ele publicou uma outra live, dessa vez com números concretos (de fato, o vídeo inteiro vale a pena. Tem muita coisa interessante nele! No capítulo previsão ele põe um áudio de 2016 onde ele próprio basicamente diz o que aconteceu em 2020):

  • (4min45) A gente tem pelo menos 1~1.5 anos antes de ter vacina (num cenário otimista).
  • (10min36) O ministro da saúde tinha anunciado naquele dia que o sistema de saúde brasileiro entraria em colapso em Abril. Interessantemente, um lugar em que essa previsão se realizou foi Manaus,, onde a pandemia foi basicamente ignorada no começo da crise, e nenhuma medida de isolamento social foi tomada.
  • (31min16) “Assim como parar o país um pouco depois [em relação à China] foi suficiente pra Itália ter mais mortes […], parar o país um pouco depois vai fazer com que a Itália só possa sair da quarentena alguns meses depois”
  • (31min45) “Pra cada semana que a gente demorar agora [pra entrar em quarentena], vocês podem esperar mais um mês ou dois [de epidemia comendo solta]”
  • (57min28) “Num cenário de mitigação, em que a gente não suprime as pessoas, não mantém elas em casa, e deixa mais do que o básico funcionando: a gente ainda [terá] leitos faltando, … e a gente teria … pelo menos 1 milhão de mortos até o fim de agosto” (isso ele sugere extrapolando os números de um estudo do Reino Unido.)

(suprimir as pessoas, aqui, significa lockdown)

Na época, todo mundo o chamou de alarmista por falar em 1 milhão de mortos. Tanto que até ele acabou em Abril “se justificando” e fazendo esse fio no Twitter, explicando que isso é SE A GENTE NÃO FIZESSE NADA. Faz pouco tempo, a Jovem Pan reviveu esse assunto, com o Augusto Nunes basicamente perguntando “onde tá o milhão de mortos?”, e insistindo que não tinha segunda onda nenhuma. O cara inclusive consegue ter a cara de pau de dizer “não tem leito faltando em lugar nenhum”. Dois meses depois, a gente já vê Manaus entrando em colapso denovo, e o Brasil já registrou record de novos casos num só dia no dia 7 de Janeiro de 2021, e a média de mortos nos últimos 7 dias já voltou a cruzar os 1000 mortos diários no dia 11 de Janeiro de 2021. O Brasil já tem mais de 200000 mortos oficiais hoje, e isso porque testa pouco! O número real de mortes é provavelmente maior, e a gente só vai saber de verdade mais pra frente, quando olhar o excesso de mortes.

Como já dizia o Temer:

Notas de Rodapé

  1. Eu vou fazer uma postagem sobre isso ainda em algum momento. Ambos os lados na minha opinião ignoram demais as próprias desvantagens, o que gera ainda mais polarização. 

  2. Pós-doutorando é uma palavra chique que não significa nada. É o cara que tá num limbo entre “terminou o doutorado” e “não tem ainda experiência/conhecimento/capacidade/autonomia pra virar Professor”. Ninguém “tem pós-doutorado”. Não existe um “curso de pós-doutorado”. O que existe é a pessoa trabalhar como “pós-doutor” por um tempo, fazendo pesquisa, dando aula, adquirindo experiência para que, eventualmente, ela possa atuar como Professor. 

  3. Evidência de que o Brasil tava preparado foi que o Uruguay só agora tá sofrendo a sua primeira onda. Tudo bem que o país é pequeno, mas por que então que o RS sofreu muito mais com a doença? Claramente eles têm algo que o RS não tinha. 

Quarentena e Donkey Kong Country 2

Estamos em Março de 2020, e o coronavirus se tornou aquilo sobre que todo mundo fala o tempo todo, nas rádios, nos podcasts, na TV, no Youtube, nas notícias, e na vida real. No momento, existem 53340 casos registrados na Alemanha (nos últimos dois dias ela registrou na faixa de 6000 casos por dia) e 3477 casos registrados no Brasil (nos últimos dias os casos no Brasil meio que estabilizaram, mas isso é provavelmente um artefato de que o Brasil só tá testando casos mais graves). Inclusive ouvi dizer que a UFRGS pretende começar a testar bastante nos próximos dias, e aí a gente deve talvez ver o número de casos em PoA explodir. Apesar de tudo, o nosso presidente, preso a uma ideologia absurda, quer pregar que isso é só uma gripezinha ou resfriadinho.

Bom… nesse meio tempo, eu venho ficando em casa (porque, bem, felizmente, eu posso, porque minha ocupação não precisa de nada além do meu próprio computador). Criei um “ambiente de trabalho” no meu quarto, e venho tentando fazer aquilo que tenho que fazer. Infelizmente, a minha produtividade (como é normal pra todo mundo que não tá acostumado com uma nova rotina) caiu. Assim, eu comecei a fazer umas “outras coisas”: aprender japonês, ler um livro, assistir um animê ou jogar Donkey Kong Country 2.

Donkey Kong Country 2 é um desses jogos que eu termino numa sentada. É um jogo fácil de virar. Eu já virei tantas vezes que nunca é um desafio ir até o final. Não sou o bonzão que faz speedrun, mas jogo benzinho até. O que eu nunca tinha percebido (e que comecei a notar agora, enquanto jogava) é como o jogo introduz em cada fase uma mecânica nova, um detalhezinho novo que torna o jogo mais divertido e interessante. Tipo… o jogo inteiro é assim: literalmente cada fase introduz uma idéia nova. Deixa eu mostrar o que eu quero dizer.

A primeira fase começa num barco, e, bem, no começo, tudo se desenvolve de uma forma muito parecido com o que é descrito nesse video aqui:

Deixa eu tentar explicar o video sem fazer o leitor investir (e não perder! porque o video é maravilhoso) 19min de sua vida: o próprio jogo ensina ao jogador o que fazer e como o jogo funciona. Por exemplo,

Por exemplo, a primeira fase começa bem à esquerda e, notando que é impossível ir pra esquerda, o jogador tenta ir pra direita. E aí ele vê uma porta. E se ele tenta entrar na porta ele descobre que certas portas podem ser acessadas. E dentro da nova sala que aparece tem uma vida; mas a vida não tá próxima ao chão… então o jogador acaba apertando alguns botões e descobrindo que se pode pular com B. Aí quando ele sai da porta, encontra bananas e vê que elas podem ser coletadas. E logo depois ele encontra um ratinho e, se não faz nada, ele morre, aprendendo que tem um conjunto limitados de vida. Felizmente, ele tinha acabado de encontrar uma vida, então tudo bem. Quando ele encontra o rato denovo, ele agora pode tentar pular sobre o rato, descobrindo que isso o mata. Imediatamente depois rato ele encontra um barril, de onde um som de macaco vem, indicando que provavelmente seja possível fazer algo com o barril. Mas até agora a única coisa que ele sabia fazer era pular. Se o jogador tentar o Y ele pode descobrir que dá pra pegar o barril… e quando ele o solta, ele descobre que no barril tinha um outro personagem. A fase inteira funciona assim. De fato, mais pro fim da fase, o jogador encontra a letra “A” desenha em bananas, junto com uma moeda que fica muito alta para pegar com o pulo. Quando o jogador aperta A, ele descobre que um dos macaquinhos pode subir na cacunda do outro, e dessa forma também é possível atirar os macacos mais ao alto. Tudo maravilhosamente pensado pra tornar o jogo fácil de aprender, mas ainda desafiante.

MUITA coisa é introduzida nessa primeira fase: as letras “K”, “O”, “N” e “G”, que, quando coletadas (nessa fase é super fácil coletá-las) te dão uma vida; o barril que “salva” o meio da fase, o rinoceronte (cujo nome é Rambi) como um “amiguinho”, junto do qual aparece a letra “A” novamente desenhada em bananas (indicando que ele tem um “poder especial” quando se segura o A), uma seta em bananas apontando para uma porta fechada, dando a entender que tem algo ali que precisa ser “desvendado” – o que interessantemente e não por acaso acaba introduzindo os “bônus” do jogo). a moeda DK bem à vista pra pegar, a placa indicando que o rinoceronte não pode passar dali, e, finalmente, o fim da fase (meio análogo ao primeiro Mario).

Mas pra mim o que torna essa discussão interessante é o que se encontra a partir da segunda fase. Na segunda fase, logo no começo, aparecem cordas nas quais os macacos podem trepar.

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Além disso, lá pelo meio da fase, aparece pela primeira vez uma bola de canhão, e, logo depois, o canhão, meio que sugerindo que se pode pôr a bola de canhão no canhão.

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Aí vem a terceira fase, Gangplank Galley. A essa altura, o jogador já sabe que existem bônus espalhados pelas fases, e que é bom explorar. Então fica fácil adivinhar que deve ter um em cima dos barris no começo da fase. E é aqui que o jogo introduz as abelhas, em que não se pode tocar, e, especialmente, a abelha vermelha, que não morre de forma alguma.

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O jogo não pára por aí: agora tem jacarés que pulam! E, mais pra frente, pra pegar o K, o jogador encontra pela primeira vez um gancho. A fase inteira, aliás, a partir dali, passa a conter ganchos em todo o lugar. Ela segue então introduzindo o jacaré maromba, que não morre com “ataques comuns”, e o barril que deixa o jogador invencível por alguns segundos. Pra terminar, o jogador finalmente percebe, ao fim da fase, que o sol foi se pondo… um detalhe que só surge aí.

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Aí vem a quarta fase, onde o jogador entra pela primeira vez numa “fase de água”. É claro, todos os inimigos são novos aqui, e é engraçado ver como a piranha (que te ataca quando tu chega perto) vem beeeem devagar, dando tempo do jogador aprender o que ela faz. Mais pro fim do jogo ela fica bem mais rápida, mas o jogador nem nota, porque agora já tá acostumado com o conceito. Surge aqui, também, o Enguarde, o peixe espada. Agora o jogador já sabe que, ao encontrar uma caixa, deve haver um animal lá dentro. É óbvio o que fazer.

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Nesse ponto, já ficou claro que cada fase introduz uma mecânica nova. O que eu acho genial é que literalmente o jogo inteiro é assim. A quinta fase introduz a Rattly (uma cobra), e, no exato momento em que o A é preciso, novamente surgem bananas formando essa letra, como que avisando ao jogador o que se deve fazer. Aqui também surge a abelha amarela, próxima de uma caixa, e impedindo a passagem a um cacho de bananas (sugerindo que esse tipo de abelha talvez se possa matar); e, quando a cigarra surge, logo depois, têm algumas bananas sobre ela, basicamente pedindo ao jogador que se jogue sobre ela.

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Aí vem o chefão, o jogador vence, surge o mapa do mundo, e o jogador vai pra segunda área, Crocodile Cauldron, onde as fases têm um tema bem diferente. Novamente, novas idéias. Primeiro, surgem cabeças verdes de crocodilo no chão, sobre que o jogador tem que pular. Mas daí, vêm as marroms, que são molas…

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Entre a introdução de um e de outro surge um novo inimigo: um inimigo que só se pode matar pulando em cima (usar Y nele não funciona)…

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E logo vem mais um amigo: a Squitter (a aranha), acompanhada ambos da letra Y (que ataca), e da letra A (que cria uma teia sobre a qual é possível caminhar).

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Na próxima fase, barris que só podem ser pegos ou pela Dixie ou pelo Diddy:

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E barris de TNT, que quando explodem têm um certo range de dano:

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E um inimigo que atira barris. Olha só que genial: tem um barril DK (desses que tem os macacos dentro) lá no alto, e o inimigo que atira barris atirando barris logo embaixo, sugerindo que seja possível pular em cima dos barris pra pegar o macaco!

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E, mais pra frente, um novo “abutre” inimigo:

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O louco é que, depois que uma certa mecânica é introduzida, ela pode aparecer denovo em outras fases. É o que ocorre na próxima fase, Lava Lagoon, que é como a primeira fase da água, só que com um twist: a água agora é lava, e as próprias bananas indicam ao jogador que ele provavelmente pular sobre a foca pra tornar a lava água denovo.

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Uma coisa que eu acho demais é como as novas mecânicas sempre são introduzidas num lugar “fácil”, e depois aparecem denovo em momentos mais difíceis. Na primeira vez que a foca aparece, o jogador tem todo o tempo do mundo pra decidir pular sobre a foca ou não. Mas quando ele entra na água, fica claro que ele deveria correr pra chegar ao outro lado antes que a água vire lava denovo. Nessa fase também surge um novo inimigo: um peixe que infla. Somente mais pra frente, na fase do peixe luz (no terceiro “mundo”), é que esse peixe muda de mecânica e explode (infla demais), soltando espinhos dos quais o jogador tem que desviar.

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Aí vem uma das minhas fases favoritas desse jogo: Red-Hot Ride. A nova mecânica é muito simples: a lava libera vapor, e o jogador tem que subir sobre uns balões que flutuam e sobem sempre que encontram esses vapores:

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Logo antes, porém, o jogo introduz um inimigo diferente. Já na primeira fase existia um jacaré que ficava dentro de um barril. Agora o jogo varia essa mecânica criando um novo inimigo trombadinha igual àquele, mas que, quando pecha no jogador, remove um cacho de bananas dele. Essa idéia vai ser reutilizada por todo o jogo: mais pra frente surge um jacaré dentro de um barril de TNT (que causa dano quando tromba no jogador) e, bem no fim do jogo, um que rouba vidas!).

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Aliás, o DK dessa fase tá num lugar muito bem pensado. O jogador tem que chegar no seguinte lugar segurando um barril, pra poder atirar na abelha de cima (e aí subir no outro balão e jogar o outro macaquinho pra cima):

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Mas logo antes o jogo põe umas mariposas vindo contra o balão do jogador, de forma que pular em cima da mariposa o faria perder o barril. Ou seja, o jogador tem que vir com o balão meio baixo, ou a mariposa o fará perder o barril………. mas não muito baixo: tem um outra mariposa passando por baixo, apresentando o mesmo tipo de perigo.

Próxima fase… e duas novas mecânicas surgem já no começo do jogo. Primeiro, um novo inimigo:

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Segundo, um barril “canhão” que fica girando e espera até que o jogador aperte B pra atirar na direção em que ele estiver no momento. (agora que eu to escrevendo isso eu fiquei pensando: é inacreditável que essa mecânica, tão tão comum nesse jogo, só tenha aparecido pela primeira vez aqui, já no fim do segundo mundo! Até voltei no jogo pra ver se encontrava esse tipo de barril e não consegui encontrar nada =O)

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E, mais pro meio da fase, o papagaio Squawks (o nome da fase é justamente Squawks Shaft – o que poderia ser interpretado de forma bem maliciosa em inglês :v). E, claro, como era de se esperar, veio junto com a letra Y formada em bananas, indicando ao jogador o que fazer.

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Termina-se o segundo mundo, e, bom, fase nova, mecânica nova. Já no começo, num lugar seguro onde o jogador possa aprender a mecânica sem medo de morrer, ele encontra um barril canhão que fica girando com um número de segundos. Se o número chega a zero, o canhão atira por si próprio.

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Logo surge também um novo inimigo: um fantasma que atira caixas de madeira (ou às vezes outras coisas, dependendo da situação)

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Uma coisa que eu acho muito louca dessa fase é que, em certo momento, o jogo queria que o jogador não fosse capaz de voltar mais, se passasse de uma certa parte da fase. O que eles fizeram, puseram barris nessa configuração, onde o barril da direita te atira bem forte pra direita, mas o da esquerda te permite fazer aquela “voltinha” ali que as bananas estão indicando:

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Bom… o jogo continua, introduzindo uma nova idéia em cada fase. Eu nunca tinha jogado esse jogo com essa perspectiva, e to achando demais como isso permanece ocorrendo em literalmente cada fase nova. Essa “nova” perspectiva me fez perceber a quantidade imensa de trabalho que os desenvolvedores puseram em cada detalhezinho desse jogo. Eu poderia continuar comentando cada fase…

  • A fase 13 introduz o peixe luz (cujo nome eu não sei) como amigo, mostra a mecânica nova do peixe que infla (que agora explode), e introduz um novo inimigo: o porco-espinho, que é análogo ao jacaré “cachorro”, em que, enquanto aquele não se podia atacar com Y, esse não se pode pular em cima (porque, afinal, ele tem espinhos).

  • A fase 14 introduz um inimigo com espadas, que te ataca; e um outro inimigo que fica girando e não se pode pular sobre ele enquanto ele o estiver fazendo, porque se não ele te joga pra cima (deve-se esperar até ele ficar tonto). E ainda introduz uns “postes” (que são uma planta) onde os macacos podem trepar. E mais ainda: tem umas cabeças de jacaré (dessas em que se podia caminhar, da primeira fase do segundo mundo) que agora que só aparecem quando o jogador pula próximo a um certo barril onde tem um jacaré desenhado.

  • A fase 15 é a primeira vez em que o jogador, em vez de encontrar um dos amiguinhos, se torna um deles. O jogador joga a fase inteira como Rattly (a cobra). Também os jacarés que pulam agora têm uma variação, que anda pra frente.

  • A fase 16 tem uma piranha roxa, que passa a fase inteira te seguindo, e tal logo o jogador caia na água ela já te ataca.

  • A fase 17 (Brambles Blast – conhecida por sua música), bom, é a primeira que aparece nesse tipo novo de cenário (que depois é o cenário de várias outras fases, onde o chão e o teto causam dano. A fase inteira é um “labirinto” de barris que alternam as direções para as quais apontam.

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Daí vem a primeira fase da “colmeira”, e depois vem o parque de diversões, com carrinhos, e daí vem a corrida com a abelha que será o chefão do quarto mundo, e aí vem o mundo dos fantasmas, com cordas que desaparecem, e a fase com vento, e a fase que tem o papagaio roxo, que não sobe (o nome da fase é “Parrot-chute panic”, um trocadilho entre papagaio e paraquedas em inglês). E a fase da aranha (em que o novo inimigo com espadas, que agora levanta as espadas imediatamente do chão na primeira vez que te ataca, é introduzido; e também um jacaré pulante novo, que espera até o jogador chegar perto; e em que não tu te transforma em aranha e passa boa parte da fase sem chão. E assim por diante.

Enfim… que jogo!

Bandeiras

Quem me conhece deve já ter uma idéia de que eu tenho sempre um monte de idéias, poucas das quais eu de verdade ponho em prática. Eu tendo a ser o cara sonhador. Quem acredita nas astrologias diria que isso é porque eu sou sagitariano. Eu, que não acredito, tenho que aceitar que pelo menos o estereótipo combina bem com a minha personalidade.

Por causa de uma das minhas idéias de ultimamente, me interessei um pouco por símbolos. Eu gosto de pensar que símbolos têm o poder de incutir nas mentes das pessoas a crença em “sonhos” (esperanças, desejos, interesses, idéias) em que elas não creriam se eles não estivessem lá. Eles parecem criar identidades, e, ao mesmo tempo, criar oposições entre grupos, e às vezes têm tanto poder que tornam as pessoas irracionais e dispostas à barbárie. Um exemplo simples é a foice-e-o-martelo, que levou milhões de pessoas à morte em nome de um ideal de “igualdade” que nunca foi alcançado. A suástica seria o exemplo do extremo oposto (a qual, sinistramente, não conseguiu alcançar o número de mortes da foice-e-o-martelo, tamanho o seu poder de destruição).

Às vezes, o objetivo de alguns símbolos é passar sinais que só significam algo para uma certa população. O exemplo óbvio é o dos maçons, com suas assinaturas e seus apertos de mão (que eu nem sei se são verdade ou se são só coisa que as pessoas dizem); mas eles não são os únicos. Por exemplo, viados nos EUA em São Francisco nos anos 70 (e ainda hoje, aparentemente… não sei) usavam lenços de certas cores no bolso, os quais indicavam as preferências sexuais do usuário. No caso, a idéia era comunicar sem ser compreendido por todo mundo: quem tava nessa população compreendia o que era pra compreender; quem não tava não fazia idéia do que tava ocorrendo. (outro exemplo clássico é o do brinco na orelha direita, que significava “viado” – e que acho que estigmatizou o brinco pra homens durante muito tempo.) Eu mesmo, hoje em dia, ainda que todos saibam da minha viadagem, frequentemente uso uma pulseira (tecida por uma amiga) com as cores do arco-íris: todo viado percebe de cara, e todo não-viado nem nota. O objetivo é tornar mais fácil levantar o assunto (pra eu poder deixar claro que sim, é o caso, sou viado): normalmente eu sou o tipo de pessoa cuja viadagem causa surpresa, e isso é meio frustrante (eu posso falar mais sobre o porquê de ser frustrante em uma outra postagem; esse não é o objetivo dessa aqui).

Outras vezes, porém, o objetivo do símbolo é que ele seja reconhecido imediatamente. As bandeiras me parecem o exemplo-mor desse tipo de coisa. Tão logo eu veja um verde, vermelho e amarelo (nessa ordem, mas às vezes inclusive fora dela), eu imediatamente penso no Rio Grande do Sul. Fim de semana passada estive em Bérgamo pra visitar uma amiga que estava por lá. Quando caminhando, me deparei com a seguinte cabine telefônica:

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Tive que tirar uma foto. É quase como se me estivesse mandando pensar no Rio Grande.

No caso, a minha idéia é fazer uma bandeira. Pra que e por que será explicado numa postagem posterior. Mas por agora quero falar do que descobri até agora. O nome da “ciência” (entre aspas porque eu não faço idéia de se existe algum estudo empírico sobre o assunto) que estuda bandeiras é Vexilologia, e, muito ligada a ela está a “arte” de criação de bandeiras, a Vexilografia. Eu escutei pela primeira vez sobre o assunto na seguinte palestra do TED, há alguns anos:

Na palestra, esse cara fala de um conjunto de “regras” da Vexilografia, que são usadas pra construir bandeiras “boas”. As cinco regras eram as seguintes (traduzindo do video):

  1. A bandeira tem de ser simples
  2. Use um simbolismo que tenha significado
  3. Use 2 ou 3 cores básicas (vermelho, branco, preto, amarelo, azul, …)
  4. Não use letras ou selos [ou brasões]
  5. Seja distintivo (ou seja relacionado)

De lá pra cá, eu sempre tive na cabeça sobre como os três X de Amsterdão são populares na cidade. A gente os vê em todo lugar, nas paredes, nas lojas, etc. Algo similar, de fato, ocorre com a bandeira do RS. Note-se: a bandeira sim contém um brasão; mas ele não tem importância, não é normalmente usado. O que importam são as cores. Dá uma olhada nas seguintes imagens (que eu aleatoriamente achei na internet, e explicam o que eu quero dizer):

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Assim, ainda que a bandeira tenha um brasão (que, diga-se de passagem, contém a bandeira dentro dele próprio), a bandeira é, como o Roman Mars sugere na palestra dele, “fácil de desenhar pra uma criança de 5 anos”.

Esse é também o caso do Brasil: a bandeira tem a idéia genial de representar o céu do Rio de Janeiro – então capital do Brasil – no dia da proclamação da república, mas tanto o lema positivista (Ordem e Progresso) quanto as estrelas são detalhes, e o que importa quando a gente desenha a bandeira é mesmo o verde, o amarelo e o azul (e o risquinho branco no meio).

Sobre o número de cores

Como se pode ver no caso brasileiro, existem sim bandeiras boas que contém mais de 2 ou 3 cores (a do Brasil tem 4). Por exemplo, a bandeira da Antígua e Barbuda tem 5 (o nome desse triângulo que corta a bandeira é “Chevron”, como o nome do carro – por isso que o logo deles, creio eu, é justamente um negócio triangular):

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A Guiana também tem cinco cores:

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E também a África do Sul:

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Muitas outras bandeiras boas têm quatro, como é o caso da Índia, da Jordânia, do Kiribati e do Lesotho:

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Uma outra coisa que eu aprendi desse video tem mais a ver com Heráldica (que é o estudo o estudo de brasões) do que com bandeiras, mas aparentemente é útil saber. Se eu entendi a idéia bem, as cores branca e amarela representam metais, e as outras cores são simplesmente cores. Aí, a idéia é que não se deve (ou, pelo menos, a heráldica inglesa sugere que se evite) pôr cor sobre cor sem uma separação por metais. Por isso é que aquele branco e amarelo nas bandeiras da Guiana e da África do Sul parecem tão agradáveis.

Brasões e imagens complicadas

Uma coisa importante a se comentar é sobre o uso de imagens complicadas. Como já mencionado anteriormente, o uso de brasões em geral é desencorajado, porque torna o desenho da bandeira complicado. A bandeira do Haiti é um exemplo do que não se deve fazer: (Quase parece que alguém simplemente pôs uma imagem .png centralizada sobre uma bandeira azul e vermelha.)

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Mas também é verdade que várias bandeiras com brasão nem são lá tão terríveis. Por exemplo, bandeiras como a do Equador e da Bolívia (que também incluem um brasão recursivo com a própria bandeira),

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ou as bandeiras do México e da Espanha

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contém brasões interessantes que as tornam facilmente reconhecíveis, ainda que complicados. A minha opinião é de que o brasão é irrelevante o suficiente pra fazer com que o importante seja somente que tem uma imagem no centro (apesar de que, bem, especialmente no caso equatoriano, fica difícil diferenciar da Venezuela e da Colômbia quando a bandeira não tá voando ao vento).

Por outro lado, existem casos em que a bandeira tem um desenho, e o desenho é bem menos complicado que o de um brasão. Nesses casos, o desenho, ainda que complicado, parece funcionar como um símbolo que identifica o país independente das cores da bandeira. O símbolo pode, daí, até ser usado sozinho, sem a necessidade de que as cores da bandeira estejam presentes. Por exemplo, olha o que é a bandeira de Portugal ou a do Irão:

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E a mesma coisa de pode dizer da Índia (acima), da Angola, da Albânia…

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… da Argentina, do Uruguai…

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… de Hong Kong e do Kirguistão.

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Características freqüentes

Tem só mais uma coisa que eu queria comentar. Tem várias características que são comuns em muitas bandeiras que, por justamente serem comuns, ganharam certos nomes. Por exemplo, países escandinavos tendem a usar a Cruz Nórdica em suas bandeiras (ainda assim, no link tem vários exemplos de bandeiras com a Cruz Nórdica em outros lugares do mundo, inclusive vários no Brasil), o que originalmente era uma menção ao Cristianismo. E.g., a bandeira a seguir é a da Noruega:

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Da mesma forma, países do sul frequentemente incluem o Cruzeiro do Sul como uma referência ao próprio sul. Os exemplos óbvios aqui são o Brasil e a Austrália:

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Aquela mini-bandeira do Reino Unido na bandeira da Austrália é chamada de “Insígnia Britânica”, e aparece em um monte de outras bandeiras. O exemplo mais óbvio além da australiana é a da Nova Zelândia:

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De fato, muitas bandeiras têm alguma coisa naquele cantinho onde a Insígnia Britânica normalmente fica. Aquele lugar é normalmente chamado de “Cantão”, e os primeiros exemplos que me vêm à mente são a Grécia, os EUA e o Chile:

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Uma barra horizontal maior no centro da bandeira é frequentemente chamada de “Faixa Espanhola”, e aparece em várias bandeiras do mundo, como a da Espanha (ali emcima) ou a do Líbano (que é pra mim um exemplo bem legal):

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E, é claro, tem o causo oposto, que é uma faixa vertical no centro, a qual é normalmente chamada de “Pala Canadiana” (claramente, esse nome foi uma tradução de Portugal – os portugueses chamam os canadenses de canadianos lol). Ela aparece (obviamente) na bandeira do Canadá (e em várias bandeiras de regiões do Canadá)…

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… mas também aparece em alguns (poucos) outros lugares, como a bandeira de São Vicente e Granadinas:

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Finalmente, bandeiras contendo três cores são chamadas de “tricolores” (dããã); e bandeiras contendo três faixas são chamadas de “tribanda”.

Para saber mais

Bom… era isso o que eu tinha pra dizer. Nessa busca por conhecimentos sobre bandeiras, foi bastante interessante buscar inspiração nas bandeiras boas que já existem, sejam elas de países ou não. Um tempo atrás, parece que houve gente querendo trocar a bandeira da Austrália, e eu fiquei abismado com como a bandeira que “ganhou” (chamada de Southern Horizon) evoca os símbolos brasileiros:

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Pra quem queira saber mais sobre bandeiras, esse “desenhador de bandeiras” foi bastante útil pra ver várias das já existentes. Um lugar onde dá pra buscar mais informações é o site da Associação Vexilológica da América do Norte (no link, tem um relatório com várias sugestões sobre o desenho de bandeiras). Tem também um subreddit sobre vexilologia que pareceu bem movimentado (foi daqui que eu tirei a piada/idéia de que o brasão da bandeira do Haiti é um .png), onde as pessoas criam bandeiras sobre vários lugares. Por fim, fica aqui um vídeo que eu achei com as similaridades de várias bandeiras:

Finalmente, tem uma tal de Federação Internacional das Associações Vexilológicas que pareceu interessante. De fato, eu gostei da bandeira deles =)