(Lembrete: como discutido início da
parte 1,
essa postagem se restringe a usar como fonte mídias bolsonaristas)
Quando eu comecei a fazer essa série de postagens, eu tinha como objetivo
simplesmente falar um pouco sobre a várzea que foi a política de controle
da pandemia ao longo de 2020. Eu não tinha na idéia de que acabaria
de tanta coisa que nem tem a ver com a pandemia! Mas sem problema: vou falar
aqui um pouco da putaria que é o governo quando a gente olha os “ministros”
que o Bolsonaro pôs lá.
Ministério da Segurança Pública
Eu vou começar com algo “leve”: a acusação do Sérgio Moro de que o Bolsonaro
estaria tentando interferir na Polícia Federal. O Moro fez muito alarde,
saiu atirando, mas no fim das contas a única prova que mostrou foi uma gravação
de uma reunião ministerial, que mais serviu pra ajudar o Bolsonaro do que
pra atrapalhar. Nela,
o Bolsonaro diz que vai interferir sim..
Que já tentou trocar gente da segurança do Rio de Janeiro e não conseguiu.
Que “se não puder trocar, troca o chefe dele. [Se] não pode trocar o chefe dele,
troca o ministro”.
Mas será que isso é prova de que ele fez alguma coisa? Eu não apostaria
nisso.
O trabalho do Sérgio Moro foi bom? Bom eu não sei. Eu não vi notícia
disso, pra falar a verdade. Eu tenho uma boa imagem do Moro, e acredito que
ele tava tentando deixar a PF fazer o seu trabalho direitinho. Mas e depois
que ele saiu? Depois que ele saiu, entrou o André Mendonça. Deixa
eu mostrar uma coisa que o André Mendonça fez.
Em Agosto de 2020 surgiu a informação de que a Seopi (Secretaria de Operações
Integradas) estaria elaborando um “dossiê” sobre 579 servidores estaduais
e federais que fariam parte de movimentos “antifascistas”. É óbvio que
o André Mendonça foi chamado pra dar explicações,
e é óbvio que ele disse que não tem nada de errado nisso; mas que é
estranho é estranho.
(afinal… o que tem de errado em ser “antifascista”? Idealmente todo
mundo deveria ser “antifascista”, não?)
Agora esses dias o André Mendonça começou com uma nova loucuragem:
processou um advogado por ter falado mal do Bolsonaro2; e
também abriu investigação contra dois jornalistas por compararem a
saída do Bolsonaro do
governo à saída do Getúlio Vargas (que se suicidou pra não sair).
Tenho medo de isso ser o começo de um conjunto de perseguições do
governo à mídia.
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
Uma outra ministra que não fede nem cheira é a Damaris Alves.
Já em Fevereiro de 2020 ela inventou que seria uma boa idéia
promover a abstinência sexual
pra prevenir a gravidez precoce. Na época, até o Mandetta disse que não
se pode minimizar a discussão dando muita ênfase a essa estratégia.
Aí no vídeo da reunião ministerial do Sérgio Moro, ela levantou a
paranóia de que
as pessoas tavam contaminando os índios de propósito
pra “matar e dizimar” a população indígena e pôr a culpa nas costas do
Bolsonaro.3
Finalmente, eu quero mencionar um escândalo um pouco mais grave.
Todo mundo se lembra da guria de 10 anos foi estuprada pelo tio e, em
agosto, apareceu grávida e teve que fazer um aborto. No Brasil, a lei
permite o aborto em três casos:
Pode ser difícil de acreditar, mas toda a história a seguir
ocorreu em plena pandemia!
Em Janeiro de 2020, o Secretário Especial da Cultura Roberto Alvim
fez um pronunciamento na TV com o objetivo de anunciar um prêmio:
o Prêmio Nacional das Artes. O problema: ele usou uma estética
obviamente (demais!) nazista. O video é esse aqui:
No vídeo, ele cita quase palavra por palavra uma frase do ministro
da propaganda alemão, Joseph Göbbels:
A Arte brasileira da próxima década será heróica e será nacional;
será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional,
e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada
às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada.
(a frase original do Goebbels era “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos [potência emocional] e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”)
Daí começou uma nova balbúrdia. Por alguma razão acharam que a
Regina Duarte
seria a pessoa certa pro cargo e puseram a mulher lá. Como dá pra
ver pela data da notícia, ela assumiu lá por 4 de Março de 2020.
Só que a Regina Duarte é absolutamente desequilibrada, e durou só uns 2 ou 3
meses no cargo.
Dêem uma olhada (não precisa ver inteira) nessa entrevista dela
(a última antes de sair), do dia 8 de Maio de 2020, em que ela
transforma a entrevista num bate boca aloprado!
(Ironia do destino, em agosto ela caiu na rua e
“bateu boca” com o chão,
dessa vez perdendo 3 dentes =S)
Duas semanas depois, ela caiu de vez do governo.
Só que “caiu pra cima”, porque foi trabalhar na Cinemateca de
São Paulo.
Atualmente, a Secretaria Especial da Cultura é comandada por um outro
ator: o ator Mario Frias. Felizmente, esse é bem menos barulhento, e
se encaixa bem na lista de personalidades que “não fede nem cheira” do
governo brasileiro.
Continua na próxima postagem
Eu comecei a fazer uma lista das bobagens que aconteceram ao longo do
ano… e tem groselha DEMAIS! Eu vou parar por aqui porque essa postagem
já tá mega grande. Semana que vem eu escrevo um pouco mais.
Notas de Rodapé
Eu não achei a lista em sites bolsonaristas. Mas o Uol publicou a lista completa. Clique aqui. ↩
mas aí alguém vai dizer que a Damares não mente. Bom… ja pegaram a Damares em vídeo mentindo ter diploma que não tem. Eu não consegui achar isso em site de notícia bolsonarista, mas aqui tem um video em que ela diz ser mestre em educação (o que não é verdade). ↩
(Lembrete: como discutido início da
parte 1,
essa postagem se restringe a usar como fonte mídias bolsonaristas)
Quando o ano de 2020 começou, o Brasil já não vinha com uma ótima imagem
internacional. No ano de 2019, algumas cagadas já vinham deteriorando a imagem
brasileira perante o mundo. Algumas delas tinham sido:
O Brasil se comprometeu em mudar a embaixada do Brasil em Israel para
Jerusalém. Em Janeiro de 2020, o
Bolsonaro inclusive confirmou o compromisso
em uma viagem à Índia. É claro, isso enfureceu os países árabes, que
compram a nossa carne,
mas não são muito claras pra mim quais as conseqüências que isso pode
ter no longo prazo.
Eu tenho que fazer umas ressalvas aqui. É verdade que o Macron
tinha/tem interesse político em criar uma imagem ruim do Brasil
(que compete na produção agrícola com o Brasil); é verdade que as
queimadas no Brasil são em parte um fenômeno natural (o que não
explica porém por que elas aumentaram MUITO desde o início do
governo Bolsonaro); e é verdade que o Brasil tem muito mais área
preservada que a França (ou a Europa como um todo). Nada disso
muda o fato de que o governo lidou MUITO MAL com as críticas.
O Brasil apoiou um golpe na Bolívia em novembro de 2019. O
Evo Morales tinha um mandato que deveria ser cumprido até Janeiro;
mas acabou sendo deposto e
substituído pela presidente interina Jeanine Añez.
Em 2020 houve eleições denovo e (vejam só)
ganhou o Luis Arce,
do partido do Evo ganhou!1
Pra mostrar o alinhamento automático do Brasil aos EUA, o Brasil
votou a favor do embargo contra Cuba,
numa votação em que 187 dos
193 países da ONU votaram contra (somente Brasil, Israel e EUA
votaram a favor, e outros 3 países não votaram).
Como dá pra ver nos pontos acima, a imagem que o Brasil tem no cenário
internacional pode ter reflexos econômicos: as queimadas fizeram com que a
Europa não quisesse saber do Mercosul; a mudança da embaixada em Israel
poderia fazer com que os árabes não mais quisessem tanto comércio com o
Brasil, e até mesmo os nossos vizinhos poderiam, por exemplo, fechar as
fronteiras e implementar medidas mais protecionistas se o Brasil começasse
a apoiar golpes de Estado como o da Bolívia ou interferir na política
Argentina. De fato, o próprio governo Bolsonaro
já fantasiou por vezes deixar o Mercosul,
o que seria um desastre sem tamanho.
Esse desastre pode não ter acontecido; mas um conjunto de desastres vêm
acontecendo desde 2019. O Brasil perdeu o lugar que tinha no
“cenário mundial”. Se antes todo mundo pensava no Brasil como um país
“bom”, essa impressão não é mais verdade com o governo Bolsonaro. Antes
as nossas políticas externas faziam pelo menos algum sentido. Por exemplo,
importar médicos de Cuba pelo menos era barato, e colocava médico nas grotas,
onde ninguém quer morar, ainda que contribua com um regime bosta (o Cubano).
No pior caso, se Cuba fizesse alguma merda, a gente podia pelo menos dar
nacionalidade brasileira pro médico cubano e deixá-lo ficar, já que é
mão de obra boa e necessária 2. Mas agora, no governo Bolsonaro,
parece que a ideologia é outra. A ideologia é “ser amiguinho” (ou, pior,
ser capacho) de Estados Unidos. Nos parágrafos a seguir, eu vou dar uma
passada em algumas das tolices que o Brasil fez esse ano. Note-se que a
maior parte do que eu descrevi nos parágrafos acima também é fruto desse
“alinhamento automático” (como alguns canais de notícia gostam de dizer)
aos Estados Unidos. Pelos EUA, a gente comprou briga com a União Européia,
com a China, com os árabes, e até com os nossos vizinhos. É uma ideologia
muito estranha. Eu não me surpreenderia se em anos vindouros descobrissem que
o Bolsonaro, sei lá, é na verdade um agente duplo da CIA ou coisa parecida.
Eu começo com algo de que se falou pouco, mas que eu acho interessante.
(Mas tenho que dizer que eu não entendo bem as conseqüencias disso.)
Ocorreu já no início do ano de 2020, em janeiro: o Brasil deixou a
Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC),
um organismo internacional do qual participam hoje 32 países.
Uma das “idéias” da CELAC é juntar os países latinos contra o
imperialismo externo (leia-se, estadunidense). Assim, deixar a
CELAC me parece similar à decisão brasileira (em 2019) de
deixar o seu status de país em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio:
i.e., uma decisão “em prol dos EUA”, com a expectativa de que os EUA
(ou, na real, o Trump – que o Bolsonaro insiste em acreditar que é
seu amigo) nos dêem alguma coisa em troca,
num futuro distante, sem muito compromisso.3
(Na internet eu achei a visualização abaixo do número de casos de
COVID por dia. Eu tentei dar uma comparada dos nnúmeros dela com os
números do
Worldometer,
que é onde eu normalmente acompanho os casos,
e ela pareceu certa, mas eu não consigo garantir muitos detalhes.
De qualquer forma, dá pra ver ali como no dia 20/03 os EUA
tinham já ~21mil casos, e uma semana depois, no dia 27/03, esse
número já tinha subido pra ~110mil casos!)
Não sei se dá pra lembrar, mas, naquele tempo, tudo
acontecia muito rápido: em questão de duas semanas, países que
tinham pouquíssimos casos subiam às primeiras posições nos rankings.
O Brasil deixou as fronteiras abertas com os EUA
até o dia 27/03, quando os EUA cruzaram os 100mil casos!
Naquela hora já era tarde: se o objetivo de fechar fronteira era
impedir gente infectada de entrar, agora já não dava mais.
É legal notar como os sacrifícios brasileiros em prol dos EUA não
trouxeram nada de bom pro Brasil4. Quando o Brasil virou um dos
epicentros da pandemia, em Maio, os EUA simplesmente anunciaram que
não queria brasileiro nenhum entrando no país.
Note-se: eles não fecharam as fronteiras com TODOS os países, como
a gente tinha feito antes. Ele fecharam as fronteiras
especificamente com o Brasil. Eles não queriam brasileiro
entrando no país ¬¬
Mas o alinhamento automático do Brasil com os EUA não foi desgastado
por esse tipo de coisa. No mês seguinte, o Bolsonaro anunciou, quase
como um fantoche,
que seguiria o Trump e deixaria a OMS logo.
Até agora, o Bolsonaro não cumpriu essa promessa. Com o Trump fora do
jogo, a minha torcida é que ele não a cumpra: deixar a OMS seria um
puta tiro no pé =/
No final de 2019 o Trump tinha aumentado impostos sobre o aço brasileiro
e argentino, com o argumento de que a gente tava
“desvalorizando artificialmente” a nossa moeda (sério?). Isso já era uma puta
facada no Brasil; mas daí em Outubro de 2020, quando o Brasil tava na merda
e o dólar tinha subido pra mais de cinco reais, o
Trump denovo impôs novas restrições sobre o nosso aço.
O governo brasileiro, em vez de tentar impedir, ou retaliar, ou fazer
qualquer coisa com um mínimo de dignidade, respondeu com a seguinte
declaração, que deixa bem claro qual é o compromisso do governo brasileiro
atual:
“O governo brasileiro mantém a firme expectativa de que a recuperação do
setor siderúrgico dos EUA, o diálogo franco e construtivo na matéria, a
ser retomado em dezembro próximo, e a excepcional qualidade das relações
bilaterais permitirão o pleno restabelecimento e mesmo a elevação dos
níveis de comércio de aço semiacabado. Essa perspectiva coaduna-se com os
atuais esforços conjuntos de integração ainda maior das economias dos dois
países”
Deu pra sentir o papel de capacho que a gente tá fazendo? O vídeo abaixo
mostra como os Estados Unidos (a Saori Kido) tão tratando o Brasil (o Jabu
de Unicórnio), e como o Brasil compra briga com quem quer se atreva a se
defender (o Seiya de Pégaso):
O que eu queria ressaltar é que o Bolsonaro não foi na posse; mas não consegui achar essa informação nas mídias bolsonarista (a que eu to me restringindo aqui nessa postagem). ↩
O objetivo era que o Trump endossasse a entrada do Brasil na OCDE. Ele demorou, e todo mundo já tava desacreditado de que isso ocorreria; mas em Janeiro de 2020 ele finalmente o fez. Isso significa que o Brasil tá na OCDE? Não. E com o Trump fora do cargo, esse “endosso” vai embora com ele. (mas isso tudo é complicado: pra que serve “estar na OCDE” afinal?) ↩
Eu vou deixar esse link de 2019 do próprio R7 (um canal pró-Bolsonaro) sobre o quão bizarras essas concessões aos EUA são. ↩
Quando eu o vi, eu concluí que a pessoa que o postou tinha perdido completamente
o contato com a realidade. O problema é que explicar o porquê disso é difícil:
as coisas que ele diz tem seu fundo de verdade, mas normalmente “não são bem
assim”. Quando eu disse à pessoa que esse vídeo é um absurdo, a pessoa disse que
não discutiria comigo sobre Bolsonaro, porque sabe que “eu sou contra”. Bom…
eu até que poderia não ser: no tempo da eleição,
o voto era uma escolha difícil entre duas opções
extremamente ruins, e o Brasil acabou escolhendo a direita.
Na época,
eu não esperava um governo bom, mas tinha a expectativa de pelo menos alguma
“estabilidade”: o país tinha passado por muita loucuragem nos últimos anos.1
Mas eu sou contra incompetência, e esse governo mostrou que tem
incompetência de sobra.
O objetivo dessa nova série de postagens é explicar por que eu acho o governo
incompetente. Eu também quero mostrar um negócio muito louco que ocorre entre
eleitores bolsonaristas: um esquecimento incrível daquilo que acabou de
acontecer. Esse esquecimento, eu creio, é movido por duas coisas:
As mídias pró-bolsonaro, que promovem uma narrativa que parece
coerente se a pessoa não se lembra dos detalhes
O monopólio da verdade que elas detêm. Ou seja, eleitores pró-bolsonaro
só acreditam no que dizem as mídias bolsonaristas.
A pessoa que postou o vídeo inclusive me disse que não assiste à Globo ou à
Band há dois anos. “Não acho notícia confiável”.
Por isso, eu resolvi que nessas postagens só vou usar mídias pró-bolsonaro,
e algumas entrevistas diretamente com a pessoa (em que é óbvio que não tem
como tirar de contexto o que ele disse).
Por exemplo, eu pretendo usar a Jovem Pan (a que eu assisto toda semana pra
me manter informado sobre o que pensa a direita – eles eram menos absurdos,
mas vieram gradativamente migrando pra direita desde ao longo do ano passado),
ou o Record News. (fico feliz em receber opiniões de outras mídias obviamente
pró-bolsonaro.)
Porém, nessa primeira postagem, eu quero rebobinar ainda mais e criticar um
ex-ministro do governo que em 14/02/2020 deixou o executivo (o governo) e
voltou pra câmara,
onde (até onde eu sei) foi atuar por lá como aliado do governo: o deputado
Osmar Terra (MDB-RS).
Ele é médico, foi parte do Partido Comunista do Brasil, só pra
eventualmente “se arrepender” e virar Ministro da Cidadania no governo
Bolsonaro.
Ele também foi Secretário da Saúde no RS
durante a pandemia de H1N1 uns 10 anos atrás.
Vejamos o que ele disse à TV Câmara no dia 18 de Março de 2020, quando o
Brasil tinha só uns 200 casos:
Algumas coisas que ele disse aí:
(1min45) A pandemia iria durar poucas semanas
(2min43) “Esta epidemia, na minha opinião, vai ser menor e [vai causar] muito menos dano pra população do que a epidemia do H1N1”
(4min07) “Todas as epidemias virais seguem mais ou menos o mesmo curso.”:
(4min11) Demora 4~5 semanas até atingirem o ápice;
(4min38) Depois, em mais umas 4~5 semanas, tendem a desaparecer. “Já tá desaparecendo inclusive nos lugares onde ela começou”
(5min19) “Os trabalhos todos publicados sobre pandemia mostram que suspender aula não adianta nada. Não tem impacto no ritmo de contágio”
Eu acho que eu não preciso explicar agora que tá tudo errado aqui.
Sobre esse último
ponto, o meu entendimento é que os trabalhos dizem justamente o contrário;
mas eu acho que esse assunto merece uma postagem própria sobre o assunto.
O Osmar Terra foi um dos caras que mais espalhou desinformação no
início da pandemia. Aparecia em tudo que é lugar. A entrevista a seguir ele
deu uma semana depois, no dia 26 de Março de 2020. Aqui ele
fez outras previsões ridículas:
(1min21) “Quando surgem os primeiros casos detectados o vírus já tá espalhado […] em milhares de pessoas que não vão ter nenhum sintoma”
(3min32) “Isso é uma curva de 12 semanas” (mesma ladainha de antes)
(4min07) “na sexta semana tá no auge”
(5min18) “é raríssimo um adulto abaixo dos 50 anos, sadio, que não tem outra doença, adoecer”
(7min50) “Nós devemos chegar no pico da epidemia na terceira semana de Abril”
(9min08) “Termina no final de Maio, início de Junho”
(12min01) “99.6% das pessoas que forem infectadas pelo vírus … não vão sentir nada”
(16min12) “[H1N1] matou muito mais gente do que o Coronavirus vai matar”
Ele próprio depois diz quanta gente morreu no surto de H1N1 no Brasil em 2009:
foram 58mil casos e 2100 mortes (16min17). Ele também diz que (16min43) a
gripe sazonal no Rio Grande do Sul mata 1000~1200 pessoas por ano. Aos
16min57 ele sugere que no Brasil “é provável” que, com todos os casos, acabem
matando mais ou menos por aí.
É óbvio que eu não preciso explicar que todas essas previsões se
mostraram erradas. Tanto que o artigo da Wikipedia sobre ele diz que
entre algumas pessoas na internet ele passou a ser chamado por nomes
como “Osmar Erra” ou “Osmar Terra Plana”. Mas ainda assim, é
interessante ver como ele ainda hoje é convidado pra falar na TV.
A entrevista a seguir é de 9 de Dezembro de 2020, logo após ele ter
se recuperado de uma infecção de COVID e ter sido internado num
hospital em Porto Alegre:
Denovo, ele fala groselha:
(2min17) “A Suécia ficou lá aberta todos esses meses … e não morreu uma criança de COVID”
Minha resposta: Eu procurei os dados sobre isso e não consegui encontrar. É sabido que morrem poucas crianças, mas não é pra isso que serve o lockdown: o lockdown é pra proteger os professores e os pais dessas crianças. De qualquer forma, vou falar sobre isso em outra postagem
(3min21) O Fiuza diz que “hoje já temos levantamentos confirmando … que essas áreas mais trancadas não tiveram menos óbitos”. Denovo… daqui pra frente vou ignorar coisas relacionadas a lockdown. É algo que merece uma postagem própria.
(4min48) “Em geral, abaixo dos 70 anos [a resposta inflamatória causada pelo vírus] é muito leve”
(8min11) “O que aconteceu de diferente foi que esse vírus demora mais pra chegar à imunidade de rebanho. O segredo de terminar qualquer epidemia é a imunidade de rebanho.”
Minha resposta: e a vacina?
(8min42) Ele responde: “Nunca uma vacina terminou uma epidemia”
Minha resposta: e a gotinha contra paralisia infantil? E o sarampo? Não tinham sido eliminados por vacina? (ele pode argumentar que não eram uma epidemia. Mas convenhamos… não é esse o ponto: a paralisia infantil foi completamente eliminada do Brasil por uma gotinha!)
(9min23) A partir daqui ele começa a sugerir que mais da metade da população teria uma “imunidade natural” contra o virus. Ele cita pesquisadores aleatórios. Eu não achei notícia alguma nem estudo algum cujos autores são esses dois (Karl Friston e Michael Levitt).
(11min15) “O pico tá na 19a semana epidemiológica.”
Minha resposta: groselha.
(11min25) “Não houve um novo surto … que piorou as internações hospitalares”
Ele segue falando que tem que testar a vacina, ignorando que o teste da vacina é justamente o seu uso. A vacina permanece sendo “testada” quando aplicada, justamente porque não é possível fazer diferente. Na minha opinião, isso só espalha desconfiança sobre a vacina, e ignora que os testes que a gente já têm mostram que a mortalidade da vacina é no mínimo menor que a do vírus.
(24min46) Depois de ter falado e falado de imunidade de rebanho na primeira metade da entrevista, ele fala que é um problema que a vacina de Oxford tenha ~70% de eficácia, porque “30% das pessoas vão tomar achando que vão estar protegidas e não vão estar protegidas”. É justamente pra isso que servem os outros 70%: o objetivo da vacina é chegar à imunidade de rebanho!
(26min39) “São 6 milhões mas na verdade são 60 milhões que já foram infectados, porque esse virus, pela letalidade dele, que é 0.27%, ele contamina muito mais do que aparece”
(Eu vou me focar na cloroquina também em outra postagem, então não
vou comentar aqui)
Note-se que o número de internações do Coronavirus é enorme! No começo
da pandemia, ouvi dizer que era de 19%. Não achei o dado, mas num
estudo da USP essa taxa ficou na faixa dos 10%.
O Osmar Terra parece ter entendido que as pessoas acreditam mais
se ele citar nomes de pesquisadores. A essa altura, porém, ninguém
mais deveria estar dando ouvidos a um cara que falou tanta bobagem
no início da epidemia. É impressionante que alguém dê. Pra mim o
problema é: a Jovem Pan nunca “admitiu” que ele tava errado. E o
bolsonarista que recebeu video dele no início do ano nem lembra
mais. A narrativa dessa direita nunca ressucita os erros dele, e
ignora quanta gente morreu por causa desses erros.
O problema de combater esse tipo de desinformação é que dá muito
trabalho. As pessoas recebem vídeos com ele dizendo isso no WhatsApp
e não têm discernimento o suficiente pra saber. Como o Osmar
Terra é supostamente alguém “estudado”,
as pessoas acabam acreditando. Quem realmente sabe das coisas acaba
recebendo pouca atenção (porque não aparentemente tem interesse
político nisso).
Alguém que claramente sabe das coisas, e tava muito
esperto pra tudo o que tava rolando é o Átila Iamarino,
que a Jovem Pan gosta de chamar de Youtuber (porque ele é a pessoa
por trás do canal Nerdologia),
mas que por acaso também é biólogo, e que foi pós-doutorando
(ou seja, pesquisador2) na Universidade de Yale
(aqui tem
link pra um artigo dele em que ele trabalhou com o vírus
Ebola, justamente durante o surto que teve na África em 2014).
Importantemente, ele não é político, e o trabalho dele no Youtube
é o de divulgar a ciência de uma forma fácil de compreender.
É óbvio que alguém que trabalhou com pesquisa num surto de uma
doença infecciosa poucos anos atrás deve saber bem do que tá
falando.
O “alarmista” Átila Iamarino tava dizendo
justamente o contrário de tudo o que o Osmar Terra dizia já lá
em Março.
Em fevereiro ele
já dizia que a gente talvez precise tentar “achatar a curva”
(ou seja, evitando contato e ficando em casa) se começar a ter
transmissão comunitária. Também disse que (~50min) o Brasil
tava muito bem
preparado pra combater o virus, por conta do SUS (que tem uma
capilaridade grande, estando presente em tudo que é lugar do
país).3 Nessa live ele também já
disse (~51min) que provavelmente só íamos ter vacina em 2021, e
que (~56min) a economia ía tomar no cu esse ano.
No dia 18 de Março, o mesmo dia da primeira entrevista com o
Osmar Terra, o Átila já dizia que:
(35min47) Se a gente fechasse _naquele exato momento_ as cidades onde tinha surto, a gente teria pelo menos 3 meses de pandemia ainda (extrapolando pelos dados da China). Ou seja, se agíssemos naquele momento, a pandemia duraria mais do que “fim de Maio / início de Junho”, como disse o Osmar Terra. Se a gente não agisse naquele momento, o cenário poderia ser muito pior.
(38min41) Mesmo depois que tivermos vacina, elas vão demorar meses pra serem produzidas.
Dois dias depois, ele publicou uma
outra live, dessa vez com
números concretos (de fato, o vídeo inteiro vale a pena. Tem muita coisa
interessante nele! No capítulo previsão ele põe um áudio de 2016 onde ele
próprio basicamente diz o que aconteceu em 2020):
(4min45) A gente tem pelo menos 1~1.5 anos antes de ter vacina (num cenário otimista).
(10min36) O ministro da saúde tinha anunciado naquele dia que o sistema de saúde brasileiro entraria em colapso em Abril. Interessantemente, um lugar em que essa previsão se realizou foi Manaus,, onde a pandemia foi basicamente ignorada no começo da crise, e nenhuma medida de isolamento social foi tomada.
(31min16) “Assim como parar o país um pouco depois [em relação à China] foi suficiente pra Itália ter mais mortes […], parar o país um pouco depois vai fazer com que a Itália só possa sair da quarentena alguns meses depois”
(31min45) “Pra cada semana que a gente demorar agora [pra entrar em quarentena], vocês podem esperar mais um mês ou dois [de epidemia comendo solta]”
(57min28) “Num cenário de mitigação, em que a gente não suprime as pessoas, não mantém elas em casa, e deixa mais do que o básico funcionando: a gente ainda [terá] leitos faltando, … e a gente teria … pelo menos 1 milhão de mortos até o fim de agosto” (isso ele sugere extrapolando os números de um estudo do Reino Unido.)
(suprimir as pessoas, aqui, significa lockdown)
Na época, todo mundo o chamou de alarmista por falar em 1 milhão de
mortos. Tanto que até ele acabou em Abril “se justificando” e fazendo
esse fio no Twitter,
explicando que isso é SE A GENTE NÃO FIZESSE NADA.
Faz pouco tempo, a Jovem Pan reviveu esse assunto,
com o Augusto Nunes basicamente perguntando “onde tá o milhão de
mortos?”, e insistindo que não tinha segunda onda nenhuma.
O cara inclusive consegue ter a cara de pau de dizer “não tem
leito faltando em lugar nenhum”.
Dois meses depois, a gente já vê
Manaus entrando em colapso denovo,
e o Brasil já registrou record de novos casos num só dia no dia
7 de Janeiro de 2021, e a média de mortos nos últimos 7 dias
já voltou a cruzar os 1000 mortos diários no dia 11 de Janeiro
de 2021. O Brasil já tem mais de 200000 mortos oficiais hoje,
e isso porque testa pouco! O número real de mortes é
provavelmente maior, e a gente só vai saber de verdade mais
pra frente, quando olhar o excesso de mortes.
Como já dizia o Temer:
Notas de Rodapé
Eu vou fazer uma postagem sobre isso ainda em algum momento. Ambos os lados na minha opinião ignoram demais as próprias desvantagens, o que gera ainda mais polarização. ↩
Pós-doutorando é uma palavra chique que não significa nada. É o cara que tá num limbo entre “terminou o doutorado” e “não tem ainda experiência/conhecimento/capacidade/autonomia pra virar Professor”. Ninguém “tem pós-doutorado”. Não existe um “curso de pós-doutorado”. O que existe é a pessoa trabalhar como “pós-doutor” por um tempo, fazendo pesquisa, dando aula, adquirindo experiência para que, eventualmente, ela possa atuar como Professor. ↩
Evidência de que o Brasil tava preparado foi que o Uruguay só agora tá sofrendo a sua primeira onda. Tudo bem que o país é pequeno, mas por que então que o RS sofreu muito mais com a doença? Claramente eles têm algo que o RS não tinha. ↩
Estamos em Março de 2020, e o coronavirus se tornou aquilo sobre que todo mundo
fala o tempo todo, nas rádios, nos podcasts, na TV, no Youtube, nas notícias,
e na vida real. No momento, existem 53340 casos registrados na Alemanha (nos
últimos dois dias ela registrou na faixa de 6000 casos por dia) e 3477 casos
registrados no Brasil (nos últimos dias os casos no Brasil meio que
estabilizaram, mas isso é provavelmente um artefato de que o Brasil só tá
testando casos mais graves). Inclusive ouvi dizer que a UFRGS pretende começar
a testar bastante nos próximos dias, e aí a gente deve talvez ver o número de
casos em PoA explodir. Apesar de tudo, o nosso presidente, preso a uma ideologia
absurda, quer pregar que isso é só uma gripezinha ou resfriadinho.
Bom… nesse meio tempo, eu venho ficando em casa (porque, bem, felizmente, eu
posso, porque minha ocupação não precisa de nada além do meu próprio
computador). Criei um “ambiente de trabalho” no meu quarto, e venho tentando
fazer aquilo que tenho que fazer. Infelizmente, a minha produtividade (como é
normal pra todo mundo que não tá acostumado com uma nova rotina) caiu. Assim, eu
comecei a fazer umas “outras coisas”: aprender japonês, ler um livro, assistir
um animê ou jogar Donkey Kong Country 2.
Donkey Kong Country 2 é um desses jogos que eu termino numa sentada. É um jogo
fácil de virar. Eu já virei tantas vezes que nunca é um desafio ir até o final.
Não sou o bonzão que faz speedrun, mas jogo benzinho até. O que eu nunca tinha
percebido (e que comecei a notar agora, enquanto jogava) é como o jogo introduz
em cada fase uma mecânica nova, um detalhezinho novo que torna o jogo mais
divertido e interessante. Tipo… o jogo inteiro é assim: literalmente cada
fase introduz uma idéia nova. Deixa eu mostrar o que eu quero dizer.
A primeira fase começa num barco, e, bem, no começo, tudo se desenvolve de uma
forma muito parecido com o que é descrito nesse video aqui:
Deixa eu tentar explicar o video sem fazer o leitor investir (e não perder!
porque o video é maravilhoso) 19min de sua vida: o próprio jogo ensina ao
jogador o que fazer e como o jogo funciona. Por exemplo,
Por exemplo, a primeira fase começa
bem à esquerda e, notando que é impossível ir pra esquerda, o jogador tenta ir
pra direita. E aí ele vê uma porta. E se ele tenta entrar na porta ele descobre
que certas portas podem ser acessadas. E dentro da nova sala que aparece tem
uma vida; mas a vida não tá próxima ao chão… então o jogador acaba apertando
alguns botões e descobrindo que se pode pular com B. Aí quando ele sai da
porta, encontra bananas e vê que elas podem ser coletadas. E logo depois ele
encontra um ratinho e, se não faz nada, ele morre, aprendendo que tem um
conjunto limitados de vida. Felizmente, ele tinha acabado de encontrar uma
vida, então tudo bem. Quando ele encontra o rato denovo, ele agora pode tentar
pular sobre o rato, descobrindo que isso o mata. Imediatamente depois
rato ele encontra um barril, de onde um som de macaco vem, indicando que
provavelmente seja possível fazer algo com o barril. Mas até agora a única
coisa que ele sabia fazer era pular. Se o jogador tentar o Y ele pode descobrir
que dá pra pegar o barril… e quando ele o solta, ele descobre que no barril
tinha um outro personagem. A fase inteira funciona assim. De fato, mais pro
fim da fase, o jogador encontra a letra “A” desenha em bananas, junto com uma
moeda que fica muito alta para pegar com o pulo. Quando o jogador aperta A, ele
descobre que um dos macaquinhos pode subir na cacunda do outro, e dessa forma
também é possível atirar os macacos mais ao alto. Tudo maravilhosamente
pensado pra tornar o jogo fácil de aprender, mas ainda desafiante.
MUITA coisa é introduzida nessa primeira fase: as letras “K”, “O”, “N” e “G”,
que, quando coletadas (nessa fase é super fácil coletá-las) te dão uma vida;
o barril que “salva” o meio da fase, o rinoceronte (cujo nome é Rambi) como
um “amiguinho”, junto do qual aparece a letra “A” novamente desenhada em
bananas (indicando que ele tem um “poder especial” quando se segura o A),
uma seta em bananas apontando para uma porta fechada, dando a entender que
tem algo ali que precisa ser “desvendado” – o que interessantemente e não por
acaso acaba introduzindo os “bônus” do jogo). a moeda DK bem à vista pra pegar,
a placa indicando que o rinoceronte não pode passar dali, e, finalmente, o
fim da fase (meio análogo ao primeiro Mario).
Mas pra mim o que torna essa discussão interessante é o que se encontra a
partir da segunda fase. Na segunda fase, logo no começo, aparecem cordas nas
quais os macacos podem trepar.
Além disso, lá pelo meio da fase, aparece pela primeira vez uma bola de
canhão, e, logo depois, o canhão, meio que sugerindo que se pode pôr a bola
de canhão no canhão.
Aí vem a terceira fase, Gangplank Galley. A essa altura, o jogador já sabe
que existem bônus espalhados pelas fases, e que é bom explorar. Então fica
fácil adivinhar que deve ter um em cima dos barris no começo da fase. E é
aqui que o jogo introduz as abelhas, em que não se pode tocar, e,
especialmente, a abelha vermelha, que não morre de forma alguma.
O jogo
não pára por aí: agora tem jacarés que pulam! E, mais pra frente, pra pegar
o K, o jogador encontra pela primeira vez um gancho. A fase inteira, aliás,
a partir dali, passa a conter ganchos em todo o lugar. Ela segue então
introduzindo o jacaré maromba, que não morre com “ataques comuns”, e o
barril que deixa o jogador invencível por alguns segundos. Pra terminar,
o jogador finalmente percebe, ao fim da fase, que o sol foi se pondo…
um detalhe que só surge aí.
Aí vem a quarta fase, onde o jogador entra pela primeira
vez numa “fase de água”. É claro, todos os inimigos são novos aqui, e é
engraçado ver como a piranha (que te ataca quando tu chega perto) vem beeeem
devagar, dando tempo do jogador aprender o que ela faz. Mais pro fim do jogo
ela fica bem mais rápida, mas o jogador nem nota, porque agora já tá
acostumado com o conceito. Surge aqui, também, o Enguarde, o peixe espada.
Agora o jogador já sabe que, ao encontrar uma caixa, deve haver um animal lá
dentro. É óbvio o que fazer.
Nesse ponto, já ficou claro que cada fase introduz uma mecânica nova. O
que eu acho genial é que literalmente o jogo inteiro é assim. A quinta fase
introduz a Rattly (uma cobra), e, no exato momento em que o A é preciso,
novamente surgem bananas formando essa letra, como que avisando ao jogador o
que se deve fazer. Aqui também surge a abelha amarela, próxima de uma caixa,
e impedindo a passagem a um cacho de bananas (sugerindo que esse tipo de
abelha talvez se possa matar); e, quando a cigarra surge, logo depois, têm
algumas bananas sobre ela, basicamente pedindo ao jogador que se jogue sobre
ela.
Aí vem o chefão, o jogador vence, surge o mapa do mundo, e o jogador vai pra
segunda área, Crocodile Cauldron, onde as fases têm um tema bem diferente.
Novamente, novas idéias. Primeiro, surgem cabeças verdes de crocodilo no
chão, sobre que o jogador tem que pular. Mas daí, vêm as marroms, que são
molas…
Entre a introdução de um e de outro surge um novo inimigo: um inimigo que
só se pode matar pulando em cima (usar Y nele não funciona)…
E logo vem mais um amigo: a Squitter (a aranha), acompanhada ambos da letra
Y (que ataca), e da letra A (que cria uma teia sobre a qual é possível
caminhar).
Na próxima fase, barris que só podem ser pegos ou pela Dixie ou pelo Diddy:
E barris de TNT, que quando explodem têm um certo range de dano:
E um inimigo que atira barris. Olha só que genial: tem um barril DK (desses
que tem os macacos dentro) lá no alto, e o inimigo que atira barris atirando
barris logo embaixo, sugerindo que seja possível pular em cima dos barris
pra pegar o macaco!
E, mais pra frente, um novo “abutre” inimigo:
O louco é que, depois que uma certa mecânica é introduzida, ela pode aparecer
denovo em outras fases. É o que ocorre na próxima fase, Lava Lagoon, que
é como a primeira fase da água, só que com um twist: a água agora é lava, e
as próprias bananas indicam ao jogador que ele provavelmente pular sobre a
foca pra tornar a lava água denovo.
Uma coisa que eu acho demais é como as novas mecânicas sempre são
introduzidas num lugar “fácil”, e depois aparecem denovo em momentos mais
difíceis. Na primeira vez que a foca aparece, o jogador tem todo o tempo
do mundo pra decidir pular sobre a foca ou não. Mas quando ele entra na
água, fica claro que ele deveria correr pra chegar ao outro lado antes que
a água vire lava denovo. Nessa fase também surge um novo inimigo: um peixe
que infla. Somente mais pra frente, na fase do peixe luz (no terceiro
“mundo”), é que esse peixe muda de mecânica e explode (infla demais),
soltando espinhos dos quais o jogador tem que desviar.
Aí vem uma das minhas fases favoritas desse jogo: Red-Hot Ride. A nova
mecânica é muito simples: a lava libera vapor, e o jogador tem que subir
sobre uns balões que flutuam e sobem sempre que encontram esses vapores:
Logo antes, porém, o jogo introduz um inimigo diferente. Já na primeira
fase existia um jacaré que ficava dentro de um barril. Agora o jogo varia
essa mecânica criando um novo inimigo trombadinha igual àquele, mas que,
quando pecha no jogador, remove um cacho de bananas dele. Essa idéia vai
ser reutilizada por todo o jogo: mais pra frente surge um jacaré dentro de
um barril de TNT (que causa dano quando tromba no jogador) e, bem no fim
do jogo, um que rouba vidas!).
Aliás, o DK dessa fase tá num lugar muito bem pensado. O jogador tem que
chegar no seguinte lugar segurando um barril, pra poder atirar na abelha
de cima (e aí subir no outro balão e jogar o outro macaquinho pra cima):
Mas logo antes o jogo põe umas mariposas vindo contra o balão do jogador,
de forma que pular em cima da mariposa o faria perder o barril. Ou seja, o
jogador tem que vir com o balão meio baixo, ou a mariposa o fará perder o
barril………. mas não muito baixo: tem um outra mariposa passando por
baixo, apresentando o mesmo tipo de perigo.
Próxima fase… e duas novas mecânicas surgem já no começo do jogo.
Primeiro, um novo inimigo:
Segundo, um barril “canhão” que fica girando e espera até que o jogador
aperte B pra atirar na direção em que ele estiver no momento. (agora que
eu to escrevendo isso eu fiquei pensando: é inacreditável que essa
mecânica, tão tão comum nesse jogo, só tenha aparecido pela primeira vez
aqui, já no fim do segundo mundo! Até voltei no jogo pra ver se encontrava
esse tipo de barril e não consegui encontrar nada =O)
E, mais pro meio da fase, o papagaio Squawks (o nome da fase é justamente
Squawks Shaft – o que poderia ser interpretado de forma bem maliciosa em
inglês :v). E, claro, como era de se
esperar, veio junto com a letra Y formada em bananas, indicando ao jogador
o que fazer.
Termina-se o segundo mundo, e, bom, fase nova, mecânica nova. Já no começo,
num lugar seguro onde o jogador possa aprender a mecânica sem medo de morrer,
ele encontra um barril canhão que fica girando com um número de segundos. Se
o número chega a zero, o canhão atira por si próprio.
Logo surge também um novo inimigo: um fantasma que atira caixas de madeira
(ou às vezes outras coisas, dependendo da situação)
Uma coisa que eu acho muito louca dessa fase é que, em certo momento, o jogo
queria que o jogador não fosse capaz de voltar mais, se passasse de uma certa
parte da fase. O que eles fizeram, puseram barris nessa configuração, onde
o barril da direita te atira bem forte pra direita, mas o da esquerda te
permite fazer aquela “voltinha” ali que as bananas estão indicando:
Bom… o jogo continua, introduzindo uma nova idéia em cada fase. Eu nunca
tinha jogado esse jogo com essa perspectiva, e to achando demais como isso
permanece ocorrendo em literalmente cada fase nova. Essa “nova” perspectiva
me fez perceber a quantidade imensa de trabalho que os desenvolvedores
puseram em cada detalhezinho desse jogo. Eu poderia continuar comentando
cada fase…
A fase 13 introduz o peixe luz (cujo nome eu não sei) como amigo,
mostra a mecânica nova do peixe que infla (que agora explode), e introduz
um novo inimigo: o porco-espinho, que é análogo ao jacaré “cachorro”, em
que, enquanto aquele não se podia atacar com Y, esse não se pode pular em
cima (porque, afinal, ele tem espinhos).
A fase 14 introduz um inimigo com espadas, que te ataca; e um outro
inimigo que fica girando e não se pode pular sobre ele enquanto ele o
estiver fazendo, porque se não ele te joga pra cima (deve-se esperar até
ele ficar tonto). E ainda introduz uns “postes” (que são uma planta) onde
os macacos podem trepar. E mais ainda: tem umas cabeças de jacaré (dessas
em que se podia caminhar, da primeira fase do segundo mundo) que agora
que só aparecem quando o jogador pula próximo a um certo barril onde tem
um jacaré desenhado.
A fase 15 é a primeira vez em que o jogador, em vez de encontrar um
dos amiguinhos, se torna um deles. O jogador joga a fase inteira como
Rattly (a cobra). Também os jacarés que pulam agora têm uma variação, que
anda pra frente.
A fase 16 tem uma piranha roxa, que passa a fase inteira te seguindo, e
tal logo o jogador caia na água ela já te ataca.
A fase 17 (Brambles Blast – conhecida por sua música), bom, é a primeira
que aparece nesse tipo novo de cenário (que depois é o cenário de várias
outras fases, onde o chão e o teto causam dano. A fase inteira é um
“labirinto” de barris que alternam as direções para as quais apontam.
Daí vem a primeira fase da “colmeira”, e depois vem o parque de diversões,
com carrinhos, e daí vem a corrida com a abelha que será o chefão do quarto
mundo, e aí vem o mundo dos fantasmas, com cordas que desaparecem, e a
fase com vento, e a fase que tem o papagaio roxo, que não sobe (o nome da
fase é “Parrot-chute panic”, um trocadilho entre papagaio e paraquedas em
inglês). E a fase da aranha (em que o novo inimigo com espadas, que agora
levanta as espadas imediatamente do chão na primeira vez que te ataca, é
introduzido; e também um jacaré pulante novo, que espera até o jogador
chegar perto; e em que não tu te transforma em aranha e passa boa parte da
fase sem chão. E assim por diante.
Quem me conhece deve já ter uma idéia de que eu tenho sempre um monte de idéias,
poucas das quais eu de verdade ponho em prática. Eu tendo a ser o cara sonhador.
Quem acredita nas astrologias diria que isso é porque eu sou sagitariano. Eu,
que não acredito, tenho que aceitar que pelo menos o estereótipo combina bem
com a minha personalidade.
Por causa de uma das minhas idéias de ultimamente, me interessei um pouco
por símbolos.
Eu gosto de pensar que símbolos têm o poder de incutir nas mentes das pessoas a
crença em “sonhos” (esperanças, desejos, interesses, idéias) em que elas não
creriam se eles não estivessem lá. Eles parecem criar identidades, e, ao mesmo
tempo, criar oposições entre grupos, e às vezes têm tanto poder que tornam as
pessoas irracionais e dispostas à barbárie.
Um exemplo simples é a foice-e-o-martelo,
que levou milhões de pessoas à morte em nome de um ideal de
“igualdade” que nunca foi alcançado. A suástica seria o exemplo do extremo
oposto (a qual, sinistramente, não conseguiu alcançar o número de mortes da
foice-e-o-martelo, tamanho o seu poder de destruição).
Às vezes, o objetivo de alguns símbolos é passar sinais que só significam algo
para uma certa população. O exemplo óbvio é o dos maçons, com suas assinaturas
e seus apertos de mão (que eu nem sei se são verdade ou se são só coisa que as
pessoas dizem); mas eles não são os únicos. Por exemplo, viados nos EUA
em São Francisco nos anos 70 (e ainda hoje, aparentemente… não sei)
usavam lenços de certas cores no bolso,
os quais indicavam as preferências sexuais do usuário.
No caso, a idéia era comunicar sem ser compreendido por todo mundo: quem tava
nessa população compreendia o que era pra compreender; quem não tava não fazia
idéia do que tava ocorrendo. (outro exemplo clássico é o do brinco na orelha
direita, que significava “viado” – e que acho que estigmatizou o brinco
pra homens durante muito tempo.)
Eu mesmo, hoje em dia, ainda que todos saibam da minha viadagem,
frequentemente uso uma pulseira (tecida por uma amiga) com as cores do
arco-íris: todo viado percebe de cara, e todo não-viado nem nota. O objetivo
é tornar mais fácil levantar o assunto (pra eu poder deixar claro que sim, é
o caso, sou viado): normalmente eu sou o tipo de pessoa cuja viadagem causa
surpresa, e isso é meio frustrante (eu posso falar mais sobre o porquê de
ser frustrante em uma outra postagem; esse não é o objetivo dessa aqui).
Outras vezes, porém, o objetivo do símbolo é que ele seja reconhecido
imediatamente. As bandeiras me parecem o exemplo-mor desse tipo de coisa.
Tão logo eu veja um verde, vermelho e amarelo (nessa ordem, mas às vezes
inclusive fora dela), eu imediatamente penso no Rio Grande do Sul. Fim de
semana passada estive em Bérgamo pra visitar uma amiga que estava por lá.
Quando caminhando, me deparei com a seguinte cabine telefônica:
Tive que tirar uma foto. É quase como se me estivesse mandando pensar no
Rio Grande.
No caso, a minha idéia é fazer uma bandeira. Pra que e por que será
explicado numa postagem posterior. Mas por agora quero falar do que
descobri até agora.
O nome da “ciência” (entre aspas porque eu não faço idéia de se existe
algum estudo empírico sobre o assunto) que estuda bandeiras é
Vexilologia, e, muito ligada
a ela está a “arte” de criação de bandeiras, a
Vexilografia. Eu escutei
pela primeira vez sobre o assunto na seguinte palestra do TED, há alguns
anos:
Na palestra, esse cara fala de um conjunto de “regras” da Vexilografia,
que são usadas pra construir bandeiras “boas”. As cinco regras eram as
seguintes (traduzindo do video):
A bandeira tem de ser simples
Use um simbolismo que tenha significado
Use 2 ou 3 cores básicas (vermelho, branco, preto, amarelo, azul, …)
Não use letras ou selos [ou brasões]
Seja distintivo (ou seja relacionado)
De lá pra cá, eu sempre tive na cabeça sobre como os três X de Amsterdão
são populares na cidade. A gente os vê em todo lugar, nas paredes, nas
lojas, etc. Algo similar, de fato, ocorre com a bandeira do RS. Note-se:
a bandeira sim contém um brasão; mas ele não tem importância, não é
normalmente usado. O que importam são as cores. Dá uma olhada nas seguintes
imagens (que eu aleatoriamente achei na internet, e explicam o que eu
quero dizer):
Assim, ainda que a bandeira tenha um brasão (que, diga-se de passagem,
contém a bandeira dentro dele próprio), a bandeira é, como o Roman Mars
sugere na palestra dele, “fácil de desenhar pra uma criança de 5 anos”.
Como se pode ver no caso brasileiro, existem sim bandeiras boas que
contém mais de 2 ou 3 cores (a do Brasil tem 4). Por exemplo, a
bandeira da Antígua e Barbuda tem 5 (o nome desse triângulo que corta a
bandeira é
“Chevron”, como o nome do carro – por isso que o logo deles,
creio eu,
é justamente um negócio triangular):
A Guiana também tem cinco cores:
E também a África do Sul:
Muitas outras bandeiras boas têm quatro, como é o caso da Índia, da
Jordânia, do Kiribati e do Lesotho:
Uma outra coisa que eu aprendi
desse video
tem mais a ver com Heráldica (que
é o estudo o estudo de brasões)
do que com bandeiras, mas aparentemente é útil saber. Se eu entendi
a idéia bem, as cores branca e amarela representam metais, e as
outras cores são simplesmente cores. Aí, a idéia é que não se deve (ou,
pelo menos, a heráldica inglesa sugere que se evite) pôr
cor sobre cor sem uma separação por metais. Por isso é que aquele
branco e amarelo nas bandeiras da Guiana e da África do Sul parecem
tão agradáveis.
Brasões e imagens complicadas
Uma coisa importante a se comentar é sobre o uso de imagens
complicadas. Como já mencionado anteriormente, o uso de brasões em geral
é desencorajado, porque torna o desenho da bandeira complicado. A bandeira
do Haiti é um exemplo do que não se deve fazer:
(Quase parece que alguém simplemente pôs uma imagem .png centralizada sobre
uma bandeira azul e vermelha.)
Mas também é verdade que várias bandeiras com brasão nem são lá tão
terríveis. Por exemplo, bandeiras como a do Equador e da Bolívia (que
também incluem um brasão recursivo com a própria bandeira),
ou as bandeiras do México e da Espanha
contém brasões interessantes que as tornam facilmente reconhecíveis, ainda
que complicados. A minha opinião é de que o brasão é irrelevante o
suficiente pra fazer com que o importante seja somente que tem uma imagem
no centro (apesar de que, bem, especialmente no caso equatoriano, fica
difícil diferenciar da Venezuela e da Colômbia quando a bandeira não tá
voando ao vento).
Por outro lado, existem casos em que a bandeira tem um desenho, e o desenho
é bem menos complicado que o de um brasão. Nesses casos, o desenho, ainda
que complicado, parece funcionar como um símbolo que identifica o país
independente das cores da bandeira. O símbolo pode, daí, até ser usado
sozinho, sem a necessidade de que as cores da bandeira estejam presentes.
Por exemplo, olha o que é a bandeira de Portugal ou a do Irão:
E a mesma coisa de pode dizer da Índia (acima), da Angola, da Albânia…
… da Argentina, do Uruguai…
… de Hong Kong e do Kirguistão.
Características freqüentes
Tem só mais uma coisa que eu queria comentar. Tem várias características
que são comuns em muitas bandeiras que, por justamente serem comuns,
ganharam certos nomes. Por exemplo, países escandinavos tendem a usar a
Cruz Nórdica em suas
bandeiras (ainda assim, no link tem vários exemplos de bandeiras com a
Cruz Nórdica em outros lugares do mundo, inclusive vários no Brasil), o
que originalmente era uma menção ao Cristianismo. E.g., a bandeira a
seguir é a da Noruega:
Da mesma forma, países
do sul frequentemente incluem o
Cruzeiro do Sul
como uma referência ao próprio sul. Os exemplos óbvios aqui são o Brasil
e a Austrália:
Aquela mini-bandeira do Reino Unido na bandeira da Austrália é chamada de
“Insígnia Britânica”, e
aparece em um monte de outras bandeiras. O exemplo mais óbvio além da
australiana é a da Nova Zelândia:
De fato, muitas bandeiras têm alguma coisa naquele cantinho onde a
Insígnia Britânica normalmente fica. Aquele lugar é normalmente chamado
de “Cantão”, e os
primeiros exemplos que me vêm à mente são a Grécia, os EUA e o Chile:
Uma barra horizontal maior no centro
da bandeira é frequentemente chamada de
“Faixa Espanhola”, e
aparece em várias bandeiras do mundo, como a da Espanha (ali emcima) ou a
do Líbano (que é pra mim um exemplo bem legal):
E, é claro, tem o causo oposto, que é uma faixa vertical no centro, a
qual é normalmente chamada de “Pala Canadiana”
(claramente, esse nome foi uma tradução de Portugal – os portugueses
chamam os canadenses de canadianos lol). Ela aparece (obviamente) na
bandeira do Canadá (e em várias bandeiras de regiões do Canadá)…
… mas também aparece em alguns (poucos) outros lugares, como a bandeira
de São Vicente e Granadinas:
Finalmente, bandeiras contendo três cores são chamadas de “tricolores”
(dããã); e bandeiras contendo três faixas são chamadas de “tribanda”.
Para saber mais
Bom… era isso o que eu tinha pra dizer. Nessa busca por conhecimentos
sobre bandeiras, foi bastante interessante buscar inspiração nas bandeiras
boas que já existem, sejam elas de países ou não. Um tempo atrás,
parece que houve gente querendo trocar a bandeira da Austrália,
e eu fiquei abismado com como a bandeira que “ganhou” (chamada de Southern
Horizon) evoca os símbolos brasileiros:
Pra quem queira saber mais sobre bandeiras,
esse “desenhador de bandeiras” foi
bastante útil pra ver várias das já existentes.
Um lugar onde dá pra buscar mais informações é o site da
Associação Vexilológica da América do Norte
(no link, tem um relatório com várias sugestões sobre o desenho de
bandeiras). Tem também
um subreddit sobre vexilologia
que pareceu bem movimentado (foi daqui que eu tirei a piada/idéia de que o
brasão da bandeira do Haiti é um .png),
onde as pessoas criam bandeiras sobre vários lugares.
Por fim, fica aqui um vídeo que eu achei com as similaridades de
várias bandeiras: